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Análise dos Times

Palavras-Chave

Entidades Principais

Donald Trump Charlie Kirk George Floyd Mariele Franco Eric Garner Freddie Gray Evaldo Rosa dos Santos Agatha Vitória Felix

Conteúdo Original

O assassinato do influenciador trumpista Charlie Kirk, de 31 anos, deixou o conservadorismo estadunidense em estado de consternação e revolta. Uma das vozes mais ativas na defesa dos valores da extrema-direita daquele país, aliado de Donald Trump, Kirk foi alvejado enquanto dava palestra numa universidade no estado e Utah nessa quarta-feira 10 de setembro. Pouco antes de ser assassinado, num momento em que respondia perguntas da audiência presente (cerca de 3.000 pessoas), Kirk foi questionado sobre quantos transexuais já tinham cometido assassinatos em massa na história dos Estados Unidos. Ao que ele respondeu, sem base factual, "muitos". A pergunta seguinte foi sobre se ele sabia quantos assassinatos em massa ocorreram nos Estados Unidos nos últimos dez anos. Ele ensaiou uma resposta, mas nessa hora ouviram-se tiros e em seguida ele estava morto. Assassinado enquanto respondia perguntas sobre os quase semanais assassinatos em massa que ocorrem em escolas e universidades norte-americanas. O assassino ainda não foi encontrado. Mas a morte de Kirk dá uma pista do que vem por aí não apenas em ações de vingança mas também em reações de minorias políticas fartas de tanta violência simbólica e concreta contra seus corpos, vidas e dignidade. Sob muitos aspectos podemos dizer que o país está no vestíbulo de uma guerra civil, e que Trump gosta da ideia. Não há nada de positivo que possa ser retirado do assassinato de um defensor de valores abertamente fascistas enquanto discursa em uma universidade. A morte de Kirk é trágica. Trump, em comunicado, disse que Charlie Kirk era adorado por todos, o que é uma mentira. Apenas mais uma que sai da boca do presidente estadunidense. Os discursos racistas e misóginos de Kirk (ele pregava que mulheres deveriam estar sempre submetidas a homens e outras atrocidades) cativaram muito ódio ao longo dos últimos anos. Grande defensor da livre distribuição de armas a todos os que puderem comprá-las, Kirk já disse que algumas mortes de inocentes seria o preço que a sociedade deveria pagar pelo exercício da liberdade (um entendimento que, para ele, passava pela liberdade de possuir armas). Nada do que saía de sua boca seria aceitável dentro de uma sociedade igualitária. Kirk era um discípulo de Trump, e se orgulhava disso. Ainda assim, apenas num cenário de guerra civil oficializada seu assassinato poderia caber em qualquer argumento retórico de defesa. A questão que se impõe é compreender por que quando a vítima de violência política é um homem branco e rico existe consternação generalizada por parte dos que estão no poder, e quando a polícia imigratória de Trump pratica suas cotidianas delinquencias contra pessoas indefesas nada causa revolta. Ou a polícia brasileira. George Flyod. Mariele Franco. Eric Garner. Freddie Gray. Evaldo Rosa dos Santos. Agatha Vitória Felix. Eu poderia seguir listando e não teria fim. No Brasil, intervenções policiais matam um negro a cada quatro horas em nove estados. Por que essa violência não choca, não revolta, não tem espaço para notas presidenciais?