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O Flamengo tem razão em debater a ambiguidade do critério de audiência no contrato que assinou com a Libra. Perde a razão, na opinião deste blog, por pedir o bloqueio na Justiça do dinheiro destinado aos clubes que assinaram o mesmo contrato. O colunista do Uol, Andrei Kampf, especialista em Direito Esportivo, explica que os bloqueios normalmente acontecem quando há chance de o dinheiro se perder. Como o contrato com a Libra dura até o final de 2029, haveria tempo de a Justiça esperar o Julgamento do mérito da questão. Se a juíza entender que o Flamengo tem razão, determinará o desconto em parcelas futuras dos demais clubes e o rubro-negro será ressarcido. Não é necessário o bloqueio. Apesar disso, a desembargadora Lúcia Helena do Passo concedeu a liminar. Lúcia Helena é a mesma desembargadora que determinou final da Taça Guanabara com portões fechados, entre Vasco x Fluminense, em 2019. Como a medida produziu confusão do lado de fora do Maracanã, a Justiça do Rio determinou a abertura do estádio aos 35 minutos do primeiro tempo e 29 mil pessoas assistiram ao Vasco ser campeão da Taça GB, seis anos atrás. Há pontos centrais para entender a briga entre a Libra e o Flamengo. Importante, a briga não é entre Palmeiras e Flamengo, embora os depoimentos recentes da presidente palmeirense, Leila Pereira, tenham dado esta impressão a muita gente. Por isso, abaixo segue um Perguntas e Respostas: Não! O Flamengo está na Série A. O que Leila Pereira fez foi usar um figura de linguagem e repetir o que todos os demais dirigentes dos oito clubes restantes da Libra estavam falando: "O Flamengo parece que quer jogar sozinho." Não vai jogar sozinho. Ele é parte da Série A e não perderá este direito. O que pode acontecer é a formação de um único bloco comercial e que o Flamengo não deseje aderir a este bloco. Neste caso, os 39 clubes das Séries A e B se juntariam para vender direitos do Campeonato Brasileiro. O Flamengo pode preferir vender seus direitos sozinho. Isto poderia ser chamado de Liga, embora tecnicamente fosse um bloco comercial. Convencionou-se chamar de Ligas a Libra (Liga Brasileira) e a LFU (Liga Forte União), que reúne onze clubes da Série A (Corinthians, Fluminense, Internacional, Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Fortaleza, Ceará, Sport, Mirassol e Juventude). Opinião deste blog: Quando Leila Pereira fala sobre o Flamengo jogar sozinho, apesar de ser claramente uma figura de linguagem, ela confunde a opinião pública e dá a impressão de que se pode tirar o rubro-negro da Série A. O discurso é ruim, porque desinforma. A Libra divide o dinheiro de televisão em três critérios: 40% igualmente; 30% por desempenho; 30 por audiência. O Flamengo entende que não há clareza no critério da divisão por audiência e pede a adoção de um entre outros dois critérios. De fato, há ambiguidade no critério de divisão do dinheiro e dificuldade de definir os critérios de audiência. Entre outros motivos, porque a televisão prefere o Flamengo no pay-per-view para dinamizar as vendas do sistema pague para ver. Isto tira o Flamengo da TV aberta e mexe na audiência. No passado, o sistema pay-per-view tinha uma cláusula de "mínimo garantido" para o rubro-negro. Este critério caiu, entre outras razões, porque quando houve a assinatura do contrato com a Rede Globo, dona do Premiere, não havia acerto da LFU com a mesma emissora. Ou seja, poderia não haver pay-per-view e, portanto, não haveria mínimo garantido. O ex-presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, convocou o Conselho Deliberativo e defendeu a aprovação do contrato com a Libra, mesmo tirando R$ 80 milhões do dinheiro a que o Flamengo teve direito no contrato anterior. O Conselho Deliberativo aprovou a assinatura do novo acordo. Todos os outros oito clubes da Série A associados à Libra divulgaram notas oficiais contra a decisão de o Flamengo pedir o bloqueio na Justiça. A voz mais alta foi a de Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Mas Bahia, Bragantino, Atlético Mineiro, Grêmio, Santos, São Paulo e Vitória também se manifestaram. A Libra divulgou nota oficial na noite de sexta-feira. Diz que o Flamengo propaga a desinformação. Cita que a atual gestão tentou mudar os critérios já depois da aprovação, mas teve a proposta rejeitada pelo resto do grupo. Além disso, questionou o critério de cadastro de torcedores como base para definir quem ganha mais dinheiro (Opinião deste colunista, assinante do Premiere há 25 anos, sobre o cadastro: Que importância tem o cadastro se eu compro os jogos dos 20 clubes e tenho direito de assistir aos 20?). Nada a ver. É mais uma maneira de confundir a opinião pública. Ninguém está rediscutindo o contrato de TV em São Paulo, nem no Campeonato Carioca. Depois de três anos sem a Rede Globo no Rio de Janeiro, o novo acordo foi selado em dezembro de 2024. O Flamengo recebe R$ 21 milhões, o Fluminense R$ 14 milhões, os pequenos ganham R$ 2,5 milhões pelo estadual. No Paulista, os quatro grandes, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, arrecadam R$ 30 milhões. Os pequenos recebem entre R$ 7 milhões e R$ 9 milhões. Nenhum dos clubes pequenos foi à Justiça para rediscutir o contrato assinado. Não necessariamente. A Premier League transformou o Campeonato Inglês em ouro, depois de anos sendo lixo. A Liga Italiana transformou a Série A em lixo, depois de anos dourados. Quando nasceu, a Premier League tinha três princípios. O primeiro era a divisão do dinheiro de TV em três fatias. Foram 50% igualitários, 25% por desempenho e 25% por audiência. Por incrível que pareça, isto não deu problema lá. Foi consensual. O segundo é que cada clube tinha direito a um voto unitário. Não havia discussão sobre tamanho de torcida, neste caso. O terceiro, a negociação coletiva dos direitos de transmissão. A Liga Inglesa nasceu destes três princípios, criada para ser uma empresa com um produto: o campeonato. Seu princípio era econômico. Na Itália, político. Por isso, a Inglaterra passou a ter o maior campeonato do mundo. Era como plantar uma árvore. Com a raiz sólida e o tronco forte, a seiva alimenta todos os galhos. Ao observar a árvore adulta, os galhos têm tamanhos diferentes. Mas todos são saudáveis. Na construção do novo futebol brasileiro, o que parece é que todos olham para o tamanho de seu próprio galho. E a árvore não cresce.