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A apresentação da proposta de SAF do Fluminense feita pela empresa LZ Sports gerou uma dúvida sobre as cifras de investimento: R$ 6,9 bilhões. Há previsão de um aporte em dinheiro concreto de R$ 500 milhões. Mas como funcionaria o mecanismo do restante do dinheiro? O blog entrevistou o CEO da LZ Sports, Carlos de Barros, para entender esta conta, a solução para a dívida e o formato da gestão da SAF. A LZ Sports é um braço esportivo da empresa Lazuli e reúne investidores como André Esteves, as famílias Klabin e Monteiro Aranha, entre outros 40 tricolores abastados. Pois bem, a proposta ao Fluminense tem aporte concreto os R$ 500 milhões, divididos em duas metades, em até dois anos. O restante é uma previsão de despesa para gestão do futebol do clube com o qual os investidores se comprometem. Idealmente, o clube gera de forma própria receita suficiente para bancar esses valores. Se isso não ocorrer, a LZ Sports teria de garantir o gasto ou seria penalizada não retirando dividendos, pelo que foi determinado na proposta. O clube pode sugerir outras penalidades na negociação posterior. "Além dos 500 que a gente vai colocar - que é um valor super relevante e a associação vai ficar na maior participação em SAF no Brasil - , a gente quis mostrar para o torcedor o compromisso. Os 6,4 bilhões são a garantia que a gente precisa investir esses valores ou não poderá tirar lucros. Precisa investir R$ 6,4 bilhões no Fluminense. A mensagem ficou truncada. Não poderão tirar seu capital (os investidores). É uma garantia que esse dinheiro tem que ser investido", contou Carlos de Barros. "Tirando o royalties para a associação, vai ter um fluxo super relevante de R$ 625 milhões por ano. O Fluminense chega no Mundial, a gente pode meter mais em um ano, e não no outro. A obrigação é total pelos dez anos." Pelo modelo, seria em torno de R$ 110 milhões em média para aquisições de jogadores. A Folha salarial seria de R$ 25 milhões em 2026, um aumento de R$ 6 milhões em relação à atual. A projeção é de um crescimento com a inflação - o clube falou em 40% de aumento na folha em relação ao montante atual. Ambos citam o Fluminense como uma das futuras maiores três folhas do Brasil. Além disso, há a previsão de outros R$ 36 milhões para desenvolvimento de formação de jogadores e outros R$ 84 milhões para melhorias dos CTs. Para atingir esse tipo de despesa, um clube ou SAF tem que obter uma receita bem maior. Carlos de Barros diz já ter feito projeções otimistas e pessimistas para a receita do Fluminense. Não é demais pensar que o clube teria de chegar a uma receita na casa de R$ 1 bilhão para este patamar de investimento. O total da receita para ser gasto depende, óbvio, do nível de dívida que sobrará para o Fluminense SAF assumir. Pelo levantamento do final de 2024, a dívida líquida do Fluminense é R$ 871 milhões. Ao final de 2025, no momento de votar a SAF, será feito um verificação mais detalhada - com diligência - para poder aferir o número final. O tamanho do passivo vai determinar, inclusive, se o projeto vai adiante. E também vai estabelecer o percentual da SAF que ficará com os investidores e com a associação - quanto menor o débito, maior a participação do Fluminense, Fato é que, para os investidores da SAF, é uma prioridade resolver a questão da dívida. O valor de R$ 250 milhões pago imediatamente após a conclusão do negócio será usado também para esse fim. "A gente quer acabar com a discussão de que dívida atrapalha a gestão. Tem dívidas que valem a pena quitar, depende do custo da dívida. Vai depender do percentual de desconto com a negociação dos credores. Vai fazer antes do fechamento do negócio da SAF. Isso em prol do clube e da torcida. Está condicionada a SAF (a essa questão da dívida)", contou Carlos de Barros. "Com dívida de R$ 900 milhões custa R$ 100 milhões só de juros. Temos que resolver isso de uma vez por todas. Queremos contratar o melhor diretor financeiro do futebol trabalhando junto conosco para pagar todas as dívidas." Concluído o negócio, será a vez de determinar a forma de gestão da SAF tricolor. Não há um investidor controlador em um grupo de mais de 40 CPFs, o que traz um desafio sobre como determinar os membros do Conselho da SAF. São oito cadeiras, seis dos investidores, duas do Fluminense. "Tem uma regra que já colocou no papel da eleição dos conselheiros", descreveu Carlos de Barros. Serão escolhidos conselheiros com know-how específico para cada área, futebol, marketing, finanças, negócios e gestão e direito esportivo. Há, sim, a possibilidade de o presidente do Fluminense, Mario Bittencourt, ocupar um cargo de diretor. Essa ideia gera polêmica dentro do Fluminense. "Não tem nada fechado com o Mário. Eles fizeram um baita trabalho. Dentro do campo e fora do campo, do ponto de vista financeiro. Gostaria de ter na próxima gestão. Não definimos posição. Seja lá quem tiver, a gestão é muito diferente. Isso vai ser gerido de forma profissional, esportiva, financeira. Pontuação, meta de engajamento torcedor. Se não entregar, vai ter que trocar", disse Barros. Por fim, antes de montar o projeto da SAF tricolor, a LZ Sports e seus investidores ouviram quem já realizou sociedades anônimas em outros grandes clubes de futebol no Brasil. E há algumas lições: "O que temos de lições aprendidas. 1) Tem que saber com quem está fazendo negócio e ser transparente. Esses investidores têm reputação que eu gostaria ter em qualquer empresas 2) Resolve a dívida, entra com a dívida resolvida. É o que outras SAF estão sofrendo com as dívidas. 3) Escolhe o modelo que é adequado para a história do clube. Não queremos fazer parte de MCO no Fluminense. Para vários clubes da Europa, seria uma marca importante ter o Fluminense. Mas não queria ser uma MCO no Fluminense. Nos outros, investidores querem retorno rápido. Aqui os investidores querem valorização patrimonial de longo prazo. 4) Cuidado com mudanças abruptas tão sensíveis no futebol,", concluiu Carlos de Barros.