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Quem bloqueia perde a razão. É igual a terminar um debate dando um soco na cara de alguém. Ainda que existam argumentos dos dois lados, perde-se o argumento. Por dois anos e meio, a discussão das duas ligas trouxe argumentos de um lado e outro, gente julgando que a Libra tinha mais coerência, que reunia os interesses das maiores torcidas. Reuniões que selaram saídas de clubes médios, como Mirassol, Novorizontino e Ponte Preta. Em 2023, o presidente do Novorizontino fez uma reunião de manhã com a Libra e à tarde com a LFU. Saiu dos encontros convencido de que a Libra não conseguia detalhar os critérios de divisão do dinheiro. Bingo! Muitos dos que apostavam que o Coritiba não assinaria com a LFU ou que os pequenos de São Paulo não deveriam mudar de lado estão vendo agora por que sempre se pregou a unidade e se entendeu que a Liga Forte tinha mais coerência. Verdade que a Série B bate à porta da CBF pedindo reparos no contrato e ajuda financeira. Mas porque a Série B assinou contrato com a BRAX e só terá o dinheiro da LFU a partir de 2027. Mesmo assim, houve subsídio da Liga Forte. O Flamengo pode ter sua razão ao dizer que o critério de audiência deveria ter sido votado por unanimidade, que a Libra não deu margem ás conversas desde fevereiro. Mas o contrato foi assinado pelo Flamengo e não foi pelo Novorizontino, justamente porque o Novorizontino percebeu que poderia haver discordâncias depois. O pecado é o bloqueio financeiro. O Flamengo tem direito a R$ 17 milhões da primeira fatia bloqueada, de R$ 77 milhões. Exatamente 22%, equivalentes à porcentagem indicada pela pesquisa O Globo-Ipec da maior torcida de clube do Brasil, exceto os que não torcem por ninguém (32%). É justo o Flamengo ir à Justiça e tentar distribuir o dinheiro de outra forma. Se confiar na Justiça brasileira, não precisa de liminar. Mais dia, menos dia, terá ganho de causa, se tiver razão. Há contradições de outros lados. Leila Pereira teve a coragem de dizer o que ninguém disse publicamente, mas todos nos bastidores falam: "Que o Flamengo jogue sozinho!" É uma frase de efeito, apenas. De prático, ela poderia fazer outra coisa: assinar o memorando em suas mãos desde julho. Neste caso, encaminhar a unidade de Libra e Liga Forte. Leila argumenta que a CBF deve fazer parte do processo. Pois tenta fazer a interlocução. Traga a CBF para o debate, já que tem proximidade e votou em Samir Xaud. Nem Ibope, nem Cazé TV, nem Amazon Prime, nem Record ou a Globo indicam que a distância de audiência do Flamengo e do Corinthians para os demais é superior aos 22% do dinheiro a ser destinado ao Flamengo. Se houver dados de audiência nesta direção, Flamengo e Corinthians devem mostrar. Nos direitos internacionais, os 19 clubes da Série A arrecadam perto de US$ 15 milhões. O Flamengo vende pacotes a R$ 600 individualmente. Está explodindo de vendas? Mesmo que seja verdade e que o Flamengo deva negociar sozinho os seus direitos, sem esquecer que dezenove de suas partidas são direitos dos outros mandantes, o pecado é o bloqueio das receitas. O Flamengo não tem de ser mãe nem pai de ninguém. Mas pede que outros clubes paguem o que lhe devem e bloqueia o dinheiro que faz falta ao Santos e que fará falta ao São Paulo, no mês que vem. Também ao Grêmio, Atlético, Vitória — que já pulou fora da Libra. Há argumentos dos dois lados. Bloqueio do dinheiro não é argumento. Nem é acreditar que a Justiça tomará a decisão justa a longo prazo.