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Antes de falarmos dos novos dados revelados pelo instituto de pesquisa Patricia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva a respeito do número de estupros no Brasil, seria importante dizer que os pesquisadores desse tipo de crime trabalham com a hipótese de que esse são números altamente subnotificados e a subnotificação pode ser calculada em até nove vezes. Ou seja: os números podem ser nove vezes maiores. Isso dito, a eles. Quinze por cento das mulheres disseram já terem sido estupradas. Dentro desse dado, 12% foram estupradas na infância e mais da metade revelou que jamais contou isso a outra pessoa. Sabemos, porque esses dados são estudados anualmente pelo Fórum de Segurança Pública, que cerca de 70% dos estupros acontecem dentro de casa e são cometidos por familiares e conhecidos. A vítima é quase sempre do sexo feminino, mas não sempre. O autor do crime é do sexo masculino. Estamos falando de pais, tios, primos, irmãos, parentes, amigos. Oito porcento das mulheres que responderam que já foram estupradas disseram ter engravidado do estupro. Vamos analisar o que está sendo dito aqui. O lugar menos seguro para uma menina e para uma mulher é dentro de sua casa. O que nós tememos não é o desconhecido, o homem andando na rua tarde da noite. O que nós tememos é o conhecido, o familiar, aquele que deveria nos proteger. Que mundo é esse? Ele serve a quais interesses? A maior parte dos estupros, quase 65%, é cometida contra crianças de menos de 13 anos. A cultura do estupro é também a cultura da pedofilia. Vamos ter coragem de falar sobre isso? Vamos ter coragem de encarar o que acontece com nossas crianças dentro do núcleo familiar? Vamos pautar educação sexual sem tabus? Vamos parar de fazer campanha para que crianças estupradas sigam com a gravidez? Todos os anos, 21 mil crianças engravidam por estupro. Entre 2013 e 2023, mais de 200 mil crianças de até 14 anos deram à luz no Brasil. Vamos ter coragem de encarar essa tragédia? Parar de falar em imbecilidades como ideologia de gênero e focar no que importa, que é dar às nossas crianças a chance de uma infância?