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Análise dos Times

Palavras-Chave

Entidades Principais

Monique Wittig Alicia Klein

Conteúdo Original

Dezenove de agosto é dia do orgulho lésbico. Um dia que chamo de meu com imenso contentamento. Me declarar lésbica, hoje sei, foi um ato político. A feminista lésbica francesa Monique Wittig [1935-2003] disse na década de 80 que lésbicas não são mulheres. Assim, sem contexto, a declaração soa estranha. Mas quando descobrimos o contexto a gente aprende um pouco mais sobre a lesbiandade e sua importância no jogo da transformação social. Para Wittig, a chave "mulher" teria importância apenas em sistemas heterossexuais e, portanto, ao nos declararmos lésbicas, estaríamos dando um passo para fora desse sistema que tanta dor causa a tanta gente. A chave "mulher" perderia, para as lésbicas, seu sentido e seria caminho de emancipação. O que intrigava Wittig era compreender o significado de ser mulher dentro do regime heteronormativo. A vida como lésbica a levou a considerar como era existir sem depender de um homem, fosse afetiva ou economicamente. Ela pregava que nos enxergássemos para fora do regime binário da diferença sexual em nome de podermos alcançar todos os horizontes possíveis para eliminar a dominação de homens sobre mulheres. Passar por essa vida sem depender da validação do olhar ou do desejo masculino é libertação e privilégio, de fato. O que não quer dizer que lésbicas não possam desenvolver relações de afeto com homens. Podem, e eu argumentaria que sem a tensão sexual, sem a dependência da validação, essas relações podem ser mais profundas e duradouras. Algumas das pessoas que mais amo nesse mundo são justamente homens com os quais construí relações de amizade e admiração. Como se não bastasse esse combo de alegria, lésbicas gozam mais do que mulheres heterossexuais (desculpem a honestidade, mas trata-se de um estudo da Social Psychological and Personality Science), além de desassociarem sexo de medos, da maior parte das doenças sexualmente transmissíveis e de dores. A lesbiandade é um caminho bastante atraente para muitas de nós, mas, ao contrário do que pregam os extremistas de direita falando em ideologia de gênero, ela não pode ser ensinada. Se pudesse, como diz minha amiga da coluna ao lado Alicia Klein, talvez houvesse fila de mulher hétero na porta da escola da lesbiandade. Ainda mais importante do que tudo isso: a lesbiandade constrói laços sólidos de respeito e admiração entre mulheres. Nesse sentido, como sugeriu Wittig, ela transcende o sexo e o casamento e passa a ser comunidade, solidariedade e horizonte para todas as mulheres, a despeito de sua sexualidade. Um brinde às lésbicas desse país.