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Deu Corinthians: nove vezes finalista do Brasileirão, sete vezes campeão, o time que não poderá jamais ser tirado da história do desenvolvimento do futebol feminino no Brasil, uma história sem precedentes e que segue pulsante mesmo ofuscada pelo crescente desinteresse administrativo do próprio clube, entregue a disputas por poder, a casos de polícia, ao brutal desinteresse por valores sociais tão caros a essa instituição. O departamento de futebol feminino, mesmo ofuscado por tanta confusão e negligência, continua seu destino de pioneirismo. Agora foi contra o Cruzeiro. O segundo jogo da final aconteceu dentro de um estádio com 41 mil pessoas, torcida inflamada. Depois de um primeiro tempo com muitas faltas e erros, o Corinthians voltou acelerado e ofensivo com a entrada de Vic Albuquerque. O gol saiu logo e a torcida fez o que sabe fazer. O Cruzeiro jogava mais defensivamente, mas já tinha metido bola na trave e buscava o contra-ataque com Vanessinha e Byanca Brasil. O time da casa não abria mão de sua filosofia ofensiva. Fez o gol e seguiu atacando. Duda, Mariza, Gabi Zanotti, Tamires, Andressa Alves e Day Rodriguez davam o ritmo e o Cruzeiro, com a bola no chão, tentava reagir com valentia e técnica. Mas acabou mesmo um a zero e o título para o Corinthians. A voz corintiana é uma voz feminina. Mais da metade de sua torcida é composta por mulheres. A pesquisa foi uma iniciativa de conselheiras, um grupo absolutamente minoritário no clube. Augusto Melo assumiu prometendo espaços de poder para elas. Mas jamais cumpriu a promessa; muito pelo contrário. O preconceito é tanto que nem o fato de o futebol feminino ser ambiente próspero para negócios e ter demanda reprimida para compra de produtos é capaz de convencer diretorias a apoiá-lo. O Cruzeiro, sob a gestão de Pedro Lourenço, incrementou os investimentos no futebol feminino e o resultado foi imediato: as Cabulosas chegaram à final e jogam hoje o futebol mais bonito do Brasil. Que o retorno rápido possa ser motivo para Pedro Lourenço seguir interessado. O futebol feminino é diferente. Compará-lo ao masculino é jogo sujo. O feminino foi proibido por lei durante 40 anos e só há 20 encontrou algum espaço para começar a crescer. Ainda assim, recebe muito menos apoio, muito menos dinheiro, muito menos visibilidade. Não há comparação possível. É preciso se aproximar dele de peito aberto, por amor a uma camisa, por amor à justiça e a reparações. Jogar bola é uma das melhores coisas da vida e deveria ser direito de toda criança em qualquer lugar do mundo. Só assim poderíamos olhar com os mesmos olhos para o masculino e para o feminino. O Corinthians vai perder seu domínio, é apenas uma questão de tempo porque outros times encontrarão caminhos de crescimento. Mas nada nunca jamais separará esse escudo da história do desenvolvimento do futebol feminino no Brasil.