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A briga que ficou ainda mais forte ontem (20) após a eliminação do Internacional contra o Flamengo mostra mais do mesmo no futebol brasileiro: ninguém está disposto a pensar no coletivo. Cada um só quer a parte da liga que lhe é conveniente. Vamos começar pela parte do Internacional. Como é que o dirigente do Colorado quer reclamar da diferença do poderio financeiro se não faz a sua própria parte de deixar tudo em dia? Como falar em igualdade e pedir fair play financeiro se o time faz adiantamento para contratar jogadores e não se preocupa em quitar os boletos que estão atrasados? E não estamos falando de fazer dívidas estruturadas, dividir parcelas de gastos e coisas que são normais em qualquer empresa, desde que seja de uma forma que condiz com a sua receita. Estamos falando em não deixar de pagar o que você já tem de compromisso para assumir novos. Vamos para o lado do Flamengo. É impossível dizer que o time carioca está errado em cobrar que o Internacional pague a contratação de Thiago Maia. O rubro-negro está totalmente correto em reclamar das contratações do Colorado enquanto não recebe o seu dinheiro. Mas aí o time carioca só quer a parte que lhe interessa da Liga. Quer o fair play financeiro, mas não quer pensar na melhor divisão de receitas de TV para o bem coletivo. É primordial que o time carioca entenda que para que o Campeonato Brasileiro seja cada vez mais forte a divisão dessa propriedade precisa ser o mais igualitário possível. . Muitos torcedores questionam esse raciocínio dizendo que quem tem mais audiência merece ganhar mais. E não entendem que essa lógica já existe nos modelos de ligas atuais. Já há, na divisão das receitas do Nacional, uma parte que premia o time que tem mais audiência. A questão é que é impossível que isso seja proporcional ao tamanho de torcida. E é assim em qualquer liga de elite. O objetivo da liga é sempre diminuir a diferença do que mais ganha para o que menos ganha quando o assunto é receitas conjuntas do Nacional. A audiência do Flamengo depende diretamente dos outros times. Ele não joga sozinho. E aí você vai me perguntar: mas o Flamengo não merece ganhar mais? Naturalmente o time vai ganhar mais em todas as outras receitas: bilheteria, patrocínio, sócio-torcedor, produtos licenciados? Não precisa querer ganhar mais também nos direitos de televisão, que é o único lugar que é possível pensar de uma forma mais coletiva. Volto a usar a metáfora sempre usada pelo meu amigo Paulo Vinícius Coelho, o PVC. O Flamengo é um dos galhos mais fortes da árvore chamada futebol brasileiro. Mas não adianta ser um galho forte se a árvore estiver morrendo. Até nos Estados Unidos, país que é símbolo do capitalismo, as ligas esportivas têm um modelo que parece mais com o comunismo na hora de dividir as receitas. E olha que lá até as suas conquistas individuais são compartilhadas, como patrocínios e bilheteria.