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A frase foi dita por um amigo flamenguista que estava muito frustrado com o jogo dessa quinta-feira. O Maracanã silencioso (mesmo com 70 mil pessoas), o time que, como disse um jornalista argentino, anda em campo, craques acima de qualquer suspeita que parecem acreditar que vencerão logo ali, a despeito do correr do cronômetro. Ambiente estranho, tenso e levemente entristecido. Cadê a festa? Onde está o delírio? A torcida entraria no jogo se o time corresse mais, lutasse mais, suasse sangue? Provavelmente. O maior craque que já vestiu a camisa do Flamengo colocou os dois joelhos em uma dividida macabra e quase acabou com a carreira. Zico, o sublime, não fugia de divididas, não andava em campo, não acreditava que a vitória era uma questão de tempo, não passava boa parte do jogo reclamando da arbitragem. Queria a bola rolando, queria o gol, queria abrir os braços e ir para sua gente. Filipe Luis pode ter errado na escalação, mas acho sempre estranho falar a respeito disso depois que o jogo acaba. O que me soa crucial é a falta de diálogo entre time e torcida. Esse diálogo que sempre terreirizou o Maracanã, que é o que o Flamengo oferece de mais exuberante, está em falta. Isso não é Flamengo, me disse meu amigo. Flamengo é Didico, é alma derramada em campo, é torcida em transe, é proletariado acima da capacidade técnica, por maior que ela seja. Um elenco estrelar, uma constelação de craques, dinheiro farto, maior torcida do Brasil, treinador jovem e competente. No papel, na concretude, tudo está encaixado. Mas vejam: futebol é sangue na veia. É da ordem das coisas subjetivas e não das coisas objetivas. Estivesse mais preocupado em jamais perder sua identidade - e não em ganhar mais uns milhões tirando dinheiro de clubes menores - esse Flamengo seria histórico, memorável e inesquecível.