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Os registro de SAFs (Sociedade Anônima do Futebol) continuam crescendo no Brasil. Em agosto passado foi feita a última atualização e, pela primeira vez, conforme matérias de vários veículos (GE, Exame, Migalhas, CNN Brasil etc.), os registros ultrapassam o número de 100. São 117 SAFS agora e não vai parar por aí. Onde há SAF, há mais dinheiro? Não necessariamente. O objetivo da SAF é promover o crescimento econômico do clube, mas o que temos na prática são pagamentos de dívidas de um lado e crescimento das dívidas de outro. Há também SAFs poderosas, mas mal geridas. Onde há SAF, há elencos mais fortes? Não necessariamente. O interesse imediato das SAFs é recuperar o investimento revelando e negociando jogadores. O que difere as SAFs nesse sentido é a experiência reconhecida no mercado. O Bahia, por exemplo, montou um bom elenco, mas seus resultados são bem melhores nas vendas e compras que faz. Vendeu Thaciano, Biel e Luciano Rodrigues por valores muito altos, mas compra, basicamente, jogadores jovens. Já deu pra perceber que formar um elenco mais competitivo é um objetivo da SAF do Bahia que depende dos resultados financeiros a médio e longo prazo. A torcida terá que esperar, mas o desempenho em campo vem sendo de razoável a bom. Uma SAF gerida por grupo estrangeiro forte economicamente é o que causa inflacionamento do mercado de jogadores no Brasil? A afirmação foi feita pela primeira vez por John Textor, CEO do Botafogo. Textor fez exatamente aquilo que tinha acusado o Grupo City de fazer: inflacionou o mercado! Outros times foram na mesma conversa de Textor. O Corinthians, por exemplo, se diz a "última vítima" da SAF do Bahia por causa da compra de um jogador promissor de sua divisão de base pelo clube baiano. Alguns jornalistas entraram nessa conversa também, mas quem acompanha Botafogo e Corinthians vê que problemas financeiros são graves, mas continuam contratando e pagando altos salários. Isso acaba inflacionando os preços, pois não há no país nada regulando o excessivo aumento de dívidas dos clubes. No final, tudo acaba nos tribunais nas costas da associação, caso a SAF perca o registro. Quem mais gasta no futebol brasileiro são, de fato, algumas SAFs, particularmente aquelas que têm capacidade de investimento. São apenas seis SAFs na série A. Daria para inflacionar tanto assim? Vamos ver. A SAF do Bahia, comparada à SAF do Botafogo e do Atlético Mineiro, não investiu tanto assim no elenco principal (os torcedores do Bahia reclamam muito disso) e nem na construção de novo estádio (muitos argumentam que a Fonte Nova é pequena para a grande torcida tricolor). A SAF do Bahia comprou um terreno em Salvador para construir sua nova sede. Os investimentos em infraestrutura esportiva é o grande diferencial do investimento. São dois times que realmente inflacionam e mantêm alto o nível de investimento em jogadores (grandes elencos), Flamengo e Palmeiras, que não são SAF. Basta pegar os gastos com elencos este ano e conferir. As SAFs põe dinheiro onde já tem bastante dinheiro, no Sudeste. Das 117 SAFs, 48 estão nos quatro estados da Região Sudeste, com destaque absoluto para o estado de São Paulo, com 29 SAFs registradas. Minas Gerais vêm em segundo com 13 SAFs. O Rio tem apenas 4, o dobro do Espírito Santo com 2. Se somarmos o Sudeste e o Sul, veremos que o "sul maravilha" é o "paraíso das SAFs", com 73 registros. O Norte-Nordeste tem 25 registros, com destaque para a Bahia com 8. No Nordeste, são 21 registros em sete estados dos nove totais. No Norte, temos a menor concentração, são apenas 4 registros (Acre, Roraima e Amazonas). No Centro-Oeste a concentração de registros de SAFS é maior, o DF e Goiás têm somados 15 das 19 SAFs existentes até agosto. É a força do agro. Pelo que se pode perceber, há muito a se dizer ainda sobre o modelo de SAF no Brasil e há poucos resultados de desempenho, até porque, apesar da mesma legislação, os modelos, objetivos e estratégias são muito distintos. A maioria depende da pessoa que fica à frente da gestão, pois, em boa parte das SAFs, as mesmas pessoas que estavam antes na presidência da associação continuam lá. A frase "Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude", atribuída ao Barão de Lampedusa, retratado brilhantemente no filme "O Leopardo", de 1963, dirigido por Luchino Visconti, pode ser usada em relação às SAFs, que chegaram para mudar, porém muito do que estamos vendo continua como ou com quem sempre esteve. *