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Na semana inaugural do julgamento na primeira turma do STF a respeito da suposta tentativa de golpe executada por Jair Bolsonaro e amigos, Alexandre de Moraes, Flavio Dino e alguns dos advogados dos réus participaram de momentos descontraídos e se permitiram fazer as mais diversas piadas entre si envolvendo sogras e outras platitudes. Risos, deboches, gozação, troça no melhor estilo 5º série, esse lugar que em todos nós ainda vivemos. Meu lado 5º série é pulsante, então não faço aqui juízo de valor de sua existência em adultos. Pondero, entretanto, os momentos em que ele pode, ou não pode, se fazer presente. O momento do mais importante julgamento de nossa história recente pelo Supremo Tribunal Federal não é absolutamente adequado para piadas. E dois pontos a respeito dos episódios eu gostaria de destacar. O primeiro deles é a seriedade que a circunstância deveria exigir. Não cabem chistes e troças. Se alguns advogados de defesa acharam de bom tom fazê-las, seria dever dos ministros seguir em posição de seriedade e retidão e ignorá-las, ou até alertar os brincalhões de que eles teriam saído do tom e do decoro. Diante do dado pelo ministro Luiz Fux em seu voto, e da munição que o voto oferece às forças de extrema-direita, fica evidente que a conduta de alguns ministros durante a primeira semana foi bastante inoportuna e imprópria. Tentativa de instauração de uma ditadura é coisa séria demais para que exista espaço para posturas juvenis no espaço público, em toga, em ritos democráticos, em espaços de poder jurídico. Em segundo lugar, quero provocar com a pergunta: quem pode se comportar nesses termos em espaços de poder? Homens. Jamais seria concedido à ministra Cármen Lúcia, ou a outra qualquer, a chance de exibir esse tipo de performance 5º série. De uma mulher nesses ambientes exige-se retidão impecável e incessante. Só homens se autorizam o privilégio de assim agir, sem nenhum tipo de autocensura, de pudor, de respeito, de decoro. O voto de Fux será diluído em relação aos demais votos. O ministro ficará isolado e sairá diminuído. Mas, ainda assim, trata-se de um voto que abre caminho para que a extrema direita ganhe musculatura. O fantasma de um golpe de estado e de uma nova ditadura seguirá vivo mesmo com a condenação de Bolsonaro e de sua turma. Diante da gravidade e do horror desse horizonte, o comportamento de troça de alguns advogados e de alguns ministros soará ainda mais ridículo.