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Cá estamos, no auge da menopausa, esse continente inexplorado, temido, quimicamente evitado. Caminhando por suas colinas, eu trago notícias. É verdade que o colágeno foi ficando pelos oceanos que até aqui me trouxeram. É verdade que o corpo sente o boleto dos anos em dobras, tendões, ligamentos. Verdade que um cansaço que parece preguiça bate em quem pode se dar ao luxo de senti-los. Mas a troca com o que se ganha é justíssima. E o que se ganha? Paz de espírito. Virar bruxa é percorrer uma terra prometida que parecia inalcançável. Minhas amigas mais jovens me trazem problemas que, vendo daqui, já não soam mais como problemas. Envelhecer é tranquilizar. Envelhecer é encarar a finitude e pensar: faz sentido que uma hora termine. E, com essa percepção, a paz se instaura. A paz deixa de ser uma instância e vira um estado. Numa sociedade que proíbe mulheres de envelhecerem, a menopausa é mesmo o horror. A emancipação dessas algemas de gênero tem muito a ver com a tranquilidade. Um sonho antigo, que eu nem mesmo entendia como permitido, era, por exemplo, me arrumar para uma festa ou para um casamento gastando o mesmo espaço de tempo que meus amigos gastavam: quinze minutos. Eu entrava no ritual de embelezamento de minhas amigas - que começavam no caso de casamentos realizados no fim do dia, às dez da manhã - e queria morrer de tédio. Agora, dane-se. Quinze minutos. A indústria da beleza lucra com nossa insegurança. E o envelhecimento traz com ele a segurança. Essa que naturaliza a morte e também nossos lugares nesse mundo. Jovens, envelheçam. Nelson Rodrigues eternizou o conselho. Envelheçam. Tudo vai melhorar especialmente se você existir em corpo de mulher. Passamos do estágio em que não falávamos em menopausa para outro estágio que diz que menopausa é um inferno. Vi outro dia uma atriz estadunidense dizer isso a um apresentador de programa. Ele quis saber o que era a menopausa e ela, depois de pensar, disse: o inferno. Talvez ela esteja certa. Mas seria mais ou menos como o inferno de Dante, esse que conduz ao purgatório e depois ao Paraíso. O que posso dizer é que vale a travessia. E que, assim como Dante, seria recomendável encontrar uma poetisa para fazer as funções de guia. Dante topou com Virgílio. Nossa missão talvez seja a de encontrar a nossa guia. De qualquer forma, o recado que posso dar às mulheres mais jovens é: não temam. Aliás: desejem. Daqui de onde estou, a vista é linda.