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Robinho seguirá preso, assim decidiu o STF. Onde muitos veem só boas notícias eu vejo muitos pontos de conflito. Primeiro, porque não defendo a prisão pela prisão nem mesmo de estupradores. Não me interessa construir um mundo em que pessoas sejam retiradas de circulação e não tenham acesso a um processo pedagógico de reforma e de transformação. Se prender por prender resolvesse alguma coisa o Brasil seria um lugar de paz e tranquilidade. Temos a terceira maior população carcerária do planeta e, ainda assim, a violência impera. E pelo que podemos concluir lendo o noticiário, Robinho não está passando por nenhum tipo de transformação moral que o leve a entender a gravidade do crime que cometeu. Durante o Fim de Papo (programa do UOL que debate os jogos da rodada) dessa quinta feira, o repórter Lucas Musetti, que sabe muito sobre as coisas que envolvem o Santos, contou que Robinho age desde a prisão como empresário do filho, decidido coisas a respeito da carreira, intermediando negociações de salário etc. Teria sido do pai preso a brilhante ideia de trocar o nome artístico do filho, que era Juninho, para chamá-lo de Robinho Jr., inclusive jogando com a camisa 7, que era dele. Se Robinho acredita que é legítimo colar nas costas do filho o nome de alguém que cometeu um crime hediondo então é porque ele não entendeu uma migalha da gravidade do crime que cometeu. E o Santos tampouco. Quem argumenta que devemos deixar o filho em paz porque ele não tem nada a ver com o crime do pai não percebe como esse tipo de argumento é a completa inversão da narrativa: quem puxou o Juninho para essa treta macabra foi justamente o pai ao decidir que ele seria, doravante, Robinho Jr. A quem interessa associar o menino ao apelido do pai? Lembremos que o nome dele é Robson e não Robinho. Ah, mas o pai foi um craque. Verdade. Foi. E também foi um homem que estuprou uma mulher, confessou o que fez em uma série de áudios aos quais o UOL teve acesso e está preso. É minimamente ético separar por conveniência o craque do crime? Juninho é excelente jogador. Pode vir a ser craque. Pode fazer carreira e virar ídolo. É justo que mulheres quem amam esse jogo escutem a torcida gritando o nome que é planejadamente igualzinho ao de alguém que foi preso por estuprar uma de nós? É aceitável que o Santos concorde com a troca do nome nas costas do jogador? Robinho deveria estar recolhido em processo educativo para compreender o que fez. Deveria sair da prisão para prestar trabalhos sociais associados a tarefas da lei Maria da Penha. Prestar assistência, conversar com outros homens, atuar para que crimes do tipo que ele cometeu deixem de acontecer. O índice de sucesso desse tipo de trabalho é altíssimo, da ordem de 70% para cima. Homens que cometeram violência de gênero e são educados a respeito do que fizeram raramente voltam a cometê-las e alguns passam a trabalhar ajudando a fazer com que outros não destruam a vida de mulheres. É assim que se reforma uma sociedade e não tirando o criminoso de circulação e permitindo que ele passe os dias apenas jogando bola com carcereiros e lendo os livros que bem entender (Musetti informou no mesmo Fim de Papo que Robinho anda lendo bastante sobre religião, livros que sua mulher leva de quinze em quinze dias. O que, obviamente, não é o tipo de literatura que vai educá-lo a respeito de violência de gênero. Dependendo da forma como ele interpretar o que nesses livros está escrito, vai até piorar). Robinho não pode sair da prisão se achando uma vítima no sistema. Ele não é a vítima; ele é aquele que cometeu o crime. A vítima está tentando se recuperar da morte simbólica que é passar por um estupro. E aqueles que se dizem aliados deveriam nos ajudar a criticar a safada troca do nome artístico do filho idealizada pelo pai e começar a falar em exigir que Robinho passe por um processo pedagógico de reforma em vez de ficar tramando formas para lavar sua imagem e ganhar dinheiro. A troca do nome não é em vão. Ela usa o filho para limpar o nome do pai. É uma violência simbólica. Contra o jovem e contra todas as mulheres.