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Hoje vou contar a história de um grande craque, um jogador maravilhoso, com uma técnica excepcional, mas que nos deixou precocemente de uma forma trágica e dolorosa. A sua morte traumatizou todos os seus companheiros de time, familiares, a torcida rubro-negra e todo o Brasil no dia 26 de agosto de 1976. Estou falando de Geraldo Assoviador, o camisa 8 do Flamengo que cresceu na base da Gávea junto com outro craque histórico, o camisa 10 Zico. Eu tinha apenas 13 anos quando Geraldo se foi, mas era um grande fã e acompanhava, sempre que possível, o campeonato carioca pela TV Tupi de São Paulo para ver o Flamengo de Zico e Geraldo. Geraldo tinha uma elegância ímpar para se movimentar em campo, com a facilidade para dominar a bola e passadas largas e sincronizadas para carregá-la. Era um jogador de "dar tapas" na bola, tanto que chegou rapidamente à seleção brasileira, disputando alguns torneios oficiais e vencendo, como a Taça do Atlântico, a Copa Roca e o Torneio Bicentenário dos Estados Unidos —onde a seleção foi campeã repetindo a dose dos 4 x 1 da Copa de 70 contra a própria Itália. Tudo isso em 1976. A concorrência era grande, pois havia jogadores como Rivellino, Paulo César Caju e o próprio Zico para o meio de campo. Por isso, fez apenas sete jogos pela seleção, mas foi convocado várias vezes. Geraldo venceu ainda a Taça Guanabara de 1973, numa época em que essa taça era importantíssima, e o Campeonato Carioca de 1974, em cima do Vasco, além de outros tantos torneios para os quais o Flamengo era convidado. O grande ex-treinador da seleção brasileira, Oswaldo Brandão, disse o seguinte a seu respeito: "Ele é um menino que tem muito o que aprender em matéria de disciplina tática, mas carrega um potencial de craque, por isso vou insistir com ele na Seleção Brasileira." Já seu companheiro e amigo desde a infância e da base do Flamengo, Zico, falou o seguinte sobre Geraldo: "Ele não gostava muito de chutar a bola no gol. Sempre preferiu fazer as jogadas e tocar para alguém. Teve um dia que ele fez uma fila de adversários e saiu na cara do gol contra o Olaria. A partida estava empatada, já nos minutos finais, então tomei a bola dele e fiz o gol. "Muita saudade mesmo, foi a primeira grande pessoa importante que eu perdi na vida. A gente andava muito junto, aí você muda um pouco de vida, casa e tal, aí as situações passam a se distanciar um pouco, né, normal, mas a amizade permaneceu durante o tempo todo e o carinho também", completou Zico Tudo parecia que o futuro dele e do nosso futebol seria incrível, até que essa tragédia aconteceu sem que ninguém pudesse esperar. Ele tinha uma inflamação crônica na garganta e o departamento médico do Flamengo recomendou a retirada das amígdalas porque, supostamente, esses constantes problemas estavam atrapalhando a recuperação de contusões. A contragosto de Geraldo, a cirurgia foi agendada para o dia 25 de agosto de 1976. Porém, por questões burocráticas, ele só foi internado no dia seguinte. Geraldo deu entrada no Hospital Rio Cor, em Ipanema. A cirurgia começou às 7h, mas 20 minutos depois ele teve uma parada cardíaca. Infelizmente, mesmo com todas as tentativas para reanimá-lo, não foi possível. Foi um choque emocional enorme para seus familiares, para o universo do futebol e também para o garoto Waltinho, paulistano da Penha, que sempre que ia ter convocação torcia muito para que Geraldo estivesse na lista. A nação rubro-negra ficou arrasada e todos os jogadores do Flamengo, abalados emocionalmente. Bom, resolvi prestar essa homenagem a um dos grandes jogadores que vi jogar e que, sem dúvida alguma, estaria em várias Copas do Mundo. E quem sabe eu não teria a chance e o privilégio de enfrentá-lo e, quem sabe, jogar algumas partidas com ele, como joguei com seu amigo Zico.