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Sentado no gramado logo depois do apito final, Neymar não quis papo com seus colegas. Depois, abraçou Diniz e desabou em lágrimas. De banho tomado, na zona mista, espinafrou o time. Uma merda, disse. Um vexame. Precisam ir pra casa pensar o que querem da vida. Como é que é? Neymar estava em campo e nada fez, mas do jeito que fala parece que é o presidente e viu o jogo do camarote. Não tem jogado bola desde que voltou. Um gol olímpico, uns gols de pênalti, uns passes certos, uns dribles. Basta? Bem, não acho que baste. O que ele tem feito pelo Santos? Neymar está disputando o Brasileirão e não se destacou em nenhum jogo. Nem nas vitórias. E tem gente pedindo seleção. Se tivesse jogado metade do que Philippe Coutinho jogou nesse domingo ia ter comunicador na porta da CBF exigindo convocação e titularidade. Mas o craque não marca, não volta, não ajuda. E quer se desresponsabilizar do vexame. Pior do que chorar como uma criança de dez anos depois do vexame histórico é tentar se separar da derrota. Choro tem hora. Chorar pelo vexame que ele protagonizou não é uma dessas horas. Seria agora o momento de se elevar. Assumir a responsabilidade, se implicar no fracasso, olhar no olho da torcida. A entrevista da zona mista foi ridícula. Não foi capaz de levantar a cabeça e encarar sequer seus interlocutores. O boné o protegia desse risco. Um discurso pequeno, infantil, acovardado e fantasiado de ira. Mas eis aí o seu plano executado com lágrimas e revolta: se separar do fracasso. Vai colocar na conta dos outros. Ele, um craque, não tem nada a ver com isso e está inclusive putaço com a forma como o Santos jogou. Neymar voltou no começo do ano. Faz sete meses. Precisa sim ser cobrado. Ganha mais do que todo o elenco, tem uma brutal comissão sobre negócios feitos pelo Santos, ele e o pai têm influência em decisões e no planejamento, um planejamento feito em torno de sua presença. Vive da ideia de quem um dia foi. Vive de glórias a despeito de não tê-las faz tempo. Vive idolatrado a despeito das lamentáveis posições como homem e cidadão. Vive apoiado por uma parte de influenciadores que já vai começar a plantar a agenda positiva: Neymar desolado no dia seguinte ao vexame, Neymar brincando com os filhos, Neymar paizão, Neymar treinando pacas, Neymar recebendo mensagem de carinho dos parças, Neymar é demais, ele é o cara. Neymar poderia ter sido o cara se tivesse encarado a vida adulta. Não encarou. Não se envolve. Acha que o time tem que atuar por ele, que as derrotas não são sua culpa, que joga demais, que faz o que pode, que é um injustiçado. Ser adulto não é de seu interesse. Tem apenas 33 anos e pode perfeitamente se reinventar. Mas a cada dia que passa esse cenário fica mais e mais delirante. O que o faria mudar? Protegido por tanta gente, cercado de bajuladores, o que poderia, enfim, transformá-lo? Neymar vive dizendo que vai pra cima deles. Um pouco de psicanálise poderia fazer com que ele parasse e se perguntasse: mas quem são eles?