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A seleção masculina sub 20 de futebol foi eliminada na fase de grupos do Mudial. Na edição passada, foi eliminada por Israel no mata-mata. Essa mesma seleção não conseguiu vaga para as Olimpíadas de Paris. É um monumento ao vexame e à humilhação para o país que acha que ainda é o do futebol. O treinador, Ramon Menezes, talvez tenha que pagar essa conta. Qual seria a justificativa para mantê-lo? Mas, vejam, se o problema fosse Menezes estaria tudo resolvido. Troca e pronto. O problema é estrutural e continuar tratando-o como pontual não vai resolver nada. Isso, evidentemente, partindo-se do princípio que a CBF quer resolvê-lo. Se quisesse, talvez não se comportasse como uma empresa. Se quisesse olhar para o futebol nacional e enxergar suas contradições, seu aspecto social, sua potência política, estaria agindo de forma muito diferente. A realidade do futebol brasileiro é catastrófica para além da camisa amarela, hoje símbolo do fascismo a despeito da brava (e, na minha opinião, inútil) luta para salvá-la. Num país cheio de intrínsecas desigualdades, o futebol é usado como plataforma para ascensão social. Alguns, um percentual irrisório, conseguem de fato transcender a precariedade através da bola. A absoluta maioria, padece. E a queda é, em certa medida, aceleradora de sofrimentos. São milhões de crianças que tentam, porque querem ou porque pai e mãe querem, ser jogador profissional. Quase todas fracassam. Algumas fracassam cedo, outra fracassam tarde. Algumas fracassam porque a fome foi maior do que a oportunidade, outras porque se entregam à vaidade de um suposto sucesso precoce. Para cada Gabigol, milhões de outros ficaram pelo caminho. O caminho é de inúmeros sacrifícios e eles incluem abandonar os estudos. Quando o sonho do futebol chega ao fim, o que sobra? Pouco. A CBF, como entidade suprema do futebol no país, deveria se enxergar como instituição social. Deveria estar envolvida até a última célula com projetos que oferecessem aos jovens caminhos alternativos dentro do futebol. O sucesso das seleções principais viria desse trabalho. Porque esse trabalho olharia para a base com outros interesses. E afetaria a saída precoce de craques, um dos grandes problemas que temos, mas que foi absolutamente naturalizado. Endrick seria mais feliz ficando no Palmeiras ou desmoralizado no Real Madrid? A ideia das saídas precoces serve a quem? À torcida? Ao atleta? Eu argumentaria que a nenhum dos dois. Mas serve a algumas pessoas, e elas são as mesmas que estão em posição de tomadas de decisões. Não formamos mais meias, não driblamos mais, não temos uma filosofia de jogo. Imitamos o que fazem os europeus e achamos que esse é o caminho. Não é, nunca será. Esse é o caminho mais cafona possível para mais fracassos. O futebol brasileiro morreu. É um zumbi administrado por uma empresa cujo negócio é a venda de patrocínios. O produto da CBF somos você e eu, a audiência que é vendida em nome dos apoios financeiros. O mercado é o publicitário. Sob esse prisma, tudo vai muito bem. Lucro, dividendos, luxo, status, poder. O que é uma seleção eliminada? Ah, gente. Acontece. Ramon Menezes, meu caro, tchau. Próximo. Samir Xaud parece interessado em mudar algumas coisas. Mas não acredito que ele vá alterar a estrutura, ou começar a chacoalhá-la porque, obviamente, esse seria trabalho para mais de uma década. Seria preciso mudar a natureza do negócio e isso não está em questão. Então, para aqueles poucos que ainda se importam com a seleção, um aviso: dias piores virão.