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Eu não sou supersticioso, porque dá azar. Também não acredito em bruxas, embora todo mundo saiba: que elas existem, existem. Dito isto, o Vasco teve duas alegrias recentes, dois empates em clássicos, nos últimos dez dias. O 1 x 1 contra o Botafogo levou às semifinais da Copa do Brasil. O empate com o Flamengo afasta do Vitória, o primeiro da zona da degola. Nas duas alegrias, jogou de camisa branca com a tradicional faixa diagonal preta. Está no estatuto que o uniforme número um do Vasco é o preto, com listra diagonal branca. Na prática, o Vasco é clube grande do Brasil que mais varia as camisas um e dois. O rosto do Flamengo é a camisa rubro-negra. O do Corinthians é a branca. O Palmeiras, camisa verde e calções brancos. O Cruzeiro de azul, Botafogo listrado preto e branco, como o Atlético, o Fluminense tricolor, o Inter de vermelho, o Grêmio azul, preto e branco, o São Paulo de branco com listras vermelha e preta, referências à origem do Paulistano e Associação Athletica das Palmeiras. O Vasco joga de branco com faixa diagonal preta ou preto com faixa diagonal branca. E o estatuto diz que o uniforme um é o preto com listra branca. Só que, na prática.... Pense rapidamente, seja vascaíno ou não. Você se lembra de mais clássicos Vasco x Flamengo com o Vasco de preto ou de branco? Contra o Botafogo, o Fluminense, o Palmeiras? Mais branco com listra preta ou preto com listra branca? A camisa branca com listra preta do Vasco nasceu antes da preta com listra branca. E está dando sorte, como indicam os clássicos recentes contra Botafogo e Flamengo, ainda que os 6 x 0 no Santos tenham sido com camisas negras. A camisa número um do Vasco, lá dos anos 1920, do tempo da resposta histórica, marco contra o racismo, era toda preta. Negra, com golas brancas e a cruz de malta, como se convencionou chamar a cruz de Cristo, em vermelho, do lado esquerdo do peito. Com essa camisa, o Vasco ganhou os Campeonatos CAriocas de 1923, 1924, 1929 (invicto), 1934, 1936. No ano seguinte, surgiu a camisa branca com listra preta no peito. Quando chegou Ondino Vieira, que tinha sido técnico do River Plate, pediu para que a branca fosse mais usada do que a preta, por uma simples razão: o calor. Os jogos no Rio de Janeiro começavam às 15 horas e o tecido não era assim tão refrescante, vestindo preto, no sol da zona norte do Rio. A camisa preta ganhou a listra diagonal branca em 1944, sete anos depois do nascimento da camisa branca, a que está dando sorte — ops, não sou supersticioso. O Expresso da Vitória continuou vestindo-se mais de branco, com listra preta, do que o inverso, porque era mais fresco. Ainda que tenha vencido, no Chile, o Torneio dos Campeões Sul-Americanos jogando a final de negro, contra o River Plate. O Vasco, preto com listra diagonal branca, calções e meias brancas. O River, de branco, listra diagonal vermelha, calção negro e meias brancas. Quando o Vasco ganhou o primeiro brasileiro, em 1974, o anfitrião dava ao visitante a escolha do uniforme. Era assim a regra até 1988. Razão pela qual o Vasco foi campeão de preto, contra o Cruzeiro que, por ter vencido o Santos na Taça Brasil de 1966, repetiu a vestimenta e vestiu-se todo de branco. Em 1989, o mandante escolhia o uniforme e o São Paulo jogou no Morumbi de branco, uniforme um, contra o Vasco, de camisas pretas com listra diagonal branca. Se fosse no Maracanã, o Vasco jogaria de branco. Porque o mandante escolhia. Em 1997, Brasileirão, em 1998, final da Libertadores, em 2000, final do Brasileiro contra o São Caetano, sempre o Vasco campeão atuando de branco como mandante. O estatuto diz que o uniforme número um do Vasco é preto com listra diagonal branca. A história, o uso, mostra diferente. A gente viu muito mais o Vasco se dar bem contra o Flamengo de branco do que o contrário. A final de 1987, gol de Tita, a decisão de 1988, gol de Cocada, a finalíssima de 1977, nos pênaltis. Sempre de branco, com listra diagonal pretra. Eu não sou supersticioso, porque dá azar, e nem vascaíno, o que fará alguém dizer que não tenho direito a opinar. Vá lá.... É que eu gosto de futebol e das coisas que a gente viu prevalecerem na nossa vida. O Vasco vencedor, campeão de tudo, jogava mais de branco com listra preta do que o contrário. Com calções brancos ou negros, com meias brancas ou listradas. Eu reconheço mais o Vasco assim, como se vestiu contra o Flamengo no domingo: camisa branca com listras pretas. Todo mundo tem saudade de ver o Vasco mais forte do que está atualmente. É por isso que dá gosto ver um Flamengo x Vasco, o Flamengo de rubro-negro e calções brancos, o Vasco de branco com listra diagonal preta. É que dá gosto ver o futebol brasileiro como a gente se acostumou, quando o Brasil era o país do futebol.