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Hoje, às 18h30, na Neo Química Arena, teremos o sétimo Dérbi de 2025, com ampla vantagem do Corinthians. No Campeonato Paulista, durante a fase de classificação, houve o primeiro empate no Allianz por 1 a 1. Quando chegaram os dois jogos da final, o Corinthians venceu por 1 a 0 no Allianz e empatou por 0 a 0 na Neo Química, sagrando-se campeão. No primeiro turno do Brasileiro, veio a única vitória do Palmeiras até agora, por 2 a 0. Mas nos jogos mais importantes das oitavas de final da Copa do Brasil o Corinthians passou por cima, vencendo as duas partidas por 1 a 0 e 2 a 0. Só que esse Dérbi de hoje tem um detalhe e um personagem novo: o atacante Gui, do Corinthians, de apenas 18 anos. Será seu primeiro clássico como profissional. Ele fez três partidas como titular, marcando 3 gols, sendo dois decisivos nas vitórias contra o Vasco em São Januário e o Athletico na Arena da Baixada. Pode ser um dia mágico para o Guilherme, e isso me faz viajar na minha própria história. Para um jovem criado no Terrão, fazer gol em um Dérbi pode mudar todo o seu futuro e abrir portas de vez. No dia 1º de agosto de 1982, tive meu primeiro Dérbi no Morumbi como profissional. Assim como o Gui, eu já havia jogado vários Dérbis, pois cheguei ao Corinthians para jogar no Dente de Leite e fiz toda a categoria de base, estourando precocemente. Dia 25 de agosto de 1982, um domingo antes do Dérbi, havíamos perdido por 1 a 0 para o São Bento. No meio de semana, vencemos o Juventus por 2 a 0 e marquei um gol, e então chegou o dia do meu primeiro Corinthians x Palmeiras. O Corinthians da Democracia Corintiana ainda não havia decolado, mas eu havia marcado dois gols - o outro tinha sido na vitória por 1 a 0 sobre o Santo André. Fazia 16 anos que o Corinthians não tinha um artilheiro do Campeonato Paulista e muitos anos que não revelava um camisa 9, pois sempre contratava centroavantes, sem dar chance para um jovem da base. E isso ainda ecoava do Parque São Jorge até esse clássico. Bom, o jogo começou equilibrado, mas nosso time foi se encontrando e as jogadas de aproximação e tabelas foram aparecendo, tanto que o nosso primeiro gol, feito pelo Biro-Biro, saiu de uma bela jogada pela esquerda, com Zenon deixando o Biro na cara do gol para marcar. Quase no final do primeiro tempo, o goleiro Gilmar, do Palmeiras, foi expulso, mas o jogo continuou complicado, pois tudo se iguala em uma partida dessas. No início do segundo tempo, o Palmeiras empatou com Jorginho, numa falha coletiva da nossa parte, e tudo parecia ficar mais difícil. Mas, de repente, nosso time entrou no jogo de vez e, depois de um drible incrível do Magrão no volante Rocha, que prendeu a bola com a mão, foi marcado pênalti. O Magrão foi lá e bateu com a categoria de sempre, marcando 2 a 1, e daí em diante dominamos totalmente a partida, mas o melhor ainda estava por vir. Aos 37 minutos do segundo tempo, numa jogada característica nossa de ultrapassagem, o lateral Alfinete entrou sozinho pela direita e me deu um passe para eu apenas escorar e fazer 3 a 1. O Palmeiras deu saída, mas tomamos a bola rapidamente na pressão e partimos pra cima. Em uma jogada do Magrão com Alfinete, que desta vez passou para o Ataliba, que bateu, mas o goleiro João Marcos soltou, e eu peguei o rebote e fiz 4 a 1 aos 38 minutos. Eu já não estava acreditando e comecei a pensar nos meus pais, amigos e tios. Estava sendo incrível, mas o destino ainda me reservava algo mais mágico. Pois bem, aos 40 minutos, numa troca de passes entre Magrão e Zenon, que saiu da área e bateu cruzado, forte, sem chance para o goleiro, a bola bateu na trave, mas eu acompanhava toda a jogada e só dei um tapa quando a bola voltou. Fiz meu terceiro gol e o quinto no Dérbi, que se tornou a maior goleada do Corinthians sobre o Palmeiras na história do clássico. Um 5 a 1 inesquecível para todos, mas para mim foi mais que inesquecível; foi mágico, alucinante, delirante e que abriu todas as portas. Nunca mais houve dúvida de que havia surgido um camisa 9 da casa, do Terrão, que conhecia o Corinthians como ninguém e que significava vestir aquela camisa e marcar gols com ela. Essa história pode se repetir neste domingo com o jovem Gui. Talvez não seja da mesma forma, fazendo 3 gols, mas pode ser marcante o suficiente para ele abrir suas portas, mudar seu futuro e para os corintianos verem surgir mais um camisa 9 da casa, assim como eu e o Viola, que surgiu em 1988. Um jogo diferente e raro, que um garoto que vem marcando gols importantes, cheio de confiança, seguro e com o apoio de jogadores mais velhos, possa também criar mais um domingo mágico para um artilheiro criado em casa.