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Só para assinantes Assine UOL Opinião O RePa do Círio: o clássico que opõe a ansiedade ao desespero Juca Kfouri Colunista do UOL 12/10/2025 09h31 Deixe seu comentário Carregando player de áudio Ler resumo da notícia Imagem: Divulgação/Prefeitura de Belém POR ANTONIO CARLOS SALLES* Milhares de paraenses vão às ruas hoje (12), naquela que é a maior manifestação religiosa da região amazônica, o Círio de Nazaré. A celebração em homenagem à Virgem de Nazaré marca o encontro dos paraenses com ato fervoroso de render agradecimentos, orar, fazer pedidos e saudar as conquistas obtidas e devotadas à Santa. Diogo Cortiz 'Merdificação': internet livre vira império de big techs PVC Abel não precisa de guerra que já teve cessar-fogo Michelle Prazeres Dia das Crianças: que tal celebrar sem consumismo? Giovana Madalosso Quem tem medo de Greta Thunberg? Espera-se que dois milhões pessoas participem diretamente da procissão ao longo da manhã de domingo, numa comunhão sem distinção social aonde coabitam crenças e fé inabaláveis, naquela que os paraenses chamam de Mãe e de Santinha, na felicidade e na tristeza. A rivalidade paroara entre Paysandu e Clube do Remo não escapa às celebrações religiosas do Círio. Quis o destino urbano que a procissão de cerca de 7 quilômetros entre a igreja da Sé, onde se origina o Círio, e a basílica de Nazaré, onde se finda, transitasse em frete às sedes sociais dos dois clubes, separados por um quarteirão de distância, na Avenida Nazaré. Eis aí o mistério da fé. Porque é nesse campo de sincretismo e religiosidade, ansiedade e desespero, que Remo e Paysandu se enfrentarão na próxima terça-feira (14) à noite pela Série B do campeonato brasileiro. O Clube do Remo vive a ansiedade de juntar-se aos 4 clubes que subirão à Série A em 2026, agora sob a batuta de Guto Ferreira, o "Gordiola", invicto há 3 jogos desde que assumiu o CR. Continua após a publicidade Guto Ferreira tem longa carreira no futebol. Viveu subidas e descidas com equipes de diferentes níveis técnico e estruturas, além de conhecer o vestiário como poucos. Guto sabe por trás das grossas lentes quem é pescador e quem é peixe. É o caso do goleiro e líder Marcelo Rangel, tão excepcional nas defesas que pratica e na segurança que transmite ao time, quanto profissional, a ponto de, após um jogo noturno e com poucas horas de sono, estar presente aos estúdios da TV Liberal às 7 da manhã para participar do programa do jornalista Carlos Ferreira. Lua do Caçador O Paysandu, o Papão da Curuzu, que usa a figura do lobo como símbolo, aposta na primeira Lua do Caçador do ano, entre uivos e sibilos para, como a lenda, arrancar forças para "caçar" o arquirrival no clássico da próxima semana, como o fez ao vencer por 1 a 0 no primeiro turno da competição, quando os times ainda buscavam definir elencos e planejamento para o longo campeonato. Na última posição na tabela de classificação, uma eventual derrota para o Remo, aliada às combinações de resultados dos demais jogos da rodada, podem colocar o Paysandu matematicamente na Série C do próximo ano. Continua após a publicidade E assim surge a imensa dúvida: Como o time que goleou o Coritiba no estádio Couto Pereira e o Criciúma no Heriberto Hulse, em Criciúma, foi incapaz de se manter organizado dentro e fora de campo? Que ajustes não foram feitos, técnicos e financeiros, para permitir ao time uma razoável competitividade à altura de sua história? É a explicação que a torcida busca entender. Uma questão, porém, é alarmante para um clube da tradição e das conquistas como o Paysandu. Trata-se da gestão do futebol profissional. Expressão dúbia nesse caso, por conta de fieira de equívocos e decisões que resultam na decepção e no sofrimento impostos à imensa torcida bicolor. Continua após a publicidade O que permite os memes jocosos que invadem celulares e tablets, aludindo ao sucesso e a desgraça de um time e de outro, amplificando a nova arena do Zap-rivalidade através da criatividade inusitada para consumo rápido e pontual. Mas como o futebol ainda não é uma ciência exata, uma vitória sobre o Remo pode não livrar o Papão da queda à C, mas poderá atrapalhar o rival em sua ascensão à A. O que já será suficiente para a cabisbaixa torcida bicolor voltar a sorrir. Lembremos que o Novorizontino ficou na B ano passado pela ausência de um mísero ponto, na rodada final. O Paysandu está para o Círio de Nazaré como o Carro dos Milagres está para a procissão. Continua após a publicidade É ali que os devotos da Santa depositam oferendas por conquistas obtidas, milagres realizados, doenças que sumiram e curas improváveis saradas. Caso o Paysandu escape da Série C, o Carro dos Milagres do Círio do próximo ano estará repleto de pés, mãos, pernas, cabeças e até camisas bicolores feitas de cera, em agradecimento às preces realizadas. Porém, o Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão do Vaticano que regula, identifica e analisa o relato de eventos "anormais", primeira etapa para se abrir uma investigação sobre um eventual milagre, não contabiliza nenhum caso com origem no futebol. * Antonio Carlos Salles é jornalista. Opinião Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados. ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL Comunicar erro Deixe seu comentário Veja também Deixe seu comentário O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL. UOL Flash Acesse o UOL Flash Receba novos posts de Juca Kfouri por email Informe seu email Quero receber As mais lidas agora Virginia está disposta a dar nova chance a Vini: 'Se for para ser, vai ser' Biquíni e churrasco: Brasileiros da Liga Saudita vivem em 'oásis' de luxo Palmeiras dispara em chances de título após goleada e deixa Fla longe; veja Israel planeja destruir túneis do Hamas; ajuda humanitária chega a Gaza 'Vacina contra HIV é desafio extraordinário', diz pesquisador da Unifesp