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Chegamos à véspera da última partida de uma Eliminatória para a Copa do Mundo tumultuada, muito mal jogada, com três treinadores diferentes e até com risco de ficar fora de uma Copa pela primeira vez. Começamos a disputa com Fernando Diniz no comando de uma seleção sem brilho, sem identificação nenhuma com o torcedor, com convocações de "amiguinhos", sem levar em conta quem estava melhor no momento. Ganhamos a primeira partida da Bolívia por 5 a 1 (7/9/23) e, na sequência da primeira rodada, vencemos o Peru em Lima (12/9/23) por 1 a 0, e muitos já saíram falando que tínhamos uma equipe brilhante e com um gênio como treinador. Não estou inventando nada e existe a internet para mostrar a veracidade do que estou falando. É só não ter preguiça de pesquisar. Porém, essa precoce empolgação durou muito pouco, porque já na segunda rodada a ficha começou a cair e os problemas na relação com o torcedor surgiram de uma forma bem clara. O Brasil empatou em casa por 1 a 1 (12/10/23), numa partida patética com a Venezuela na Arena Pantanal, em Cuiabá. A seleção saiu vaiada pelo estádio todo pelo fraco futebol apresentado e também teve a primeira incompatibilidade da torcida com os jogadores, principalmente com Neymar, quando um torcedor jogou um saquinho de pipoca em sua cabeça na saída do campo. Esse empate foi o início do primeiro vexame, porque na partida seguinte fomos a Montevidéu e perdemos para o Uruguai (17/10/23) por 2 a 0. Foi nesse jogo que os problemas para Neymar começaram, porque ele rompeu os ligamentos do joelho, e ao mesmo tempo o trabalho do Fernando Diniz também começou a ser contestado. Ainda em 2023, veio a terceira rodada e tomamos duas pancadas: uma na Colômbia por 2 a 1 (16/11/23) e, em pleno Maracanã, sofremos a primeira derrota em casa na história das Eliminatórias para a Copa, justamente para os nossos maiores rivais. No dia 21/11, Messi e cia. fizeram Argentina 1 a 0, com gol de Otamendi, e batemos um recorde negativo que não acontecia há décadas: o Brasil perder três partidas consecutivas. O ano de 2023 terminou com a seleção brasileira perdendo mais partidas do que ganhou, o que também foi uma marca supernegativa que não acontecia há "milhares" de anos. Aí chegou 2024, a CBF demitiu Fernando Diniz e trouxe o treinador daquele momento, Dorival Júnior, que havia vencido a Copa do Brasil em 2022 com o Flamengo e em 2023 com o São Paulo. Porém, Dorival fez o mesmo do mesmo nas Eliminatórias e foi se perdendo, principalmente nas entrevistas completamente fora da realidade. Mas venceu seu primeiro jogo oficial. No Couto Pereira, em Curitiba, jogando muito mal, o Brasil venceu o Equador por 1 a 0 (6/9/24) e rompeu a sequência de derrotas. Porém, na segunda partida dessa rodada, em 10/9/24, fomos derrotados por 1 a 0 em Assunção pelo Paraguai, e poderia ter sido mais. Nas coletivas, Dorival Júnior começou a demonstrar muita fragilidade e incoerência nas falas em relação à realidade e nenhuma evolução no trabalho. Nesse momento, o Brasil estava com a corda no pescoço, e os debates nas mesas-redondas e nos bares giravam em torno do risco real da seleção disputar a repescagem para ir à Copa, o que seria vergonhoso, até porque o regulamento mudou e aumentou uma vaga direta. Mas a seleção voltou a respirar no início do "segundo turno" das Eliminatórias, quando vencemos o péssimo Chile em Santiago (10/10/24) por 2 a 1 e, na sequência, goleamos o também fraco Peru (15/10/24) por 4 a 0 em Brasília, no Estádio BRB Mané Garrincha. Duas vitórias consecutivas tiraram a gente do sufoco, mas teríamos pela frente os grandes confrontos e tudo poderia ruir novamente. Voltamos a respirar sem aparelhos. Aí passamos para novembro de 2024 e, no dia 14, véspera do feriado da República, empatamos novamente com a Venezuela, no Monumental de Maturín, por 1 a 1. O que também ficou para a história negativa foi o fato de ter sido a primeira Eliminatória em que o Brasil não venceu nenhuma vez a Venezuela, permitindo que eles conquistassem pontos em cima da nossa seleção. Voltamos da Venezuela e fomos para a linda Salvador, na Arena Fonte Nova, enfrentar o perigoso time uruguaio no dia 19/11/24. Também não vencemos o Uruguai nessas Eliminatórias, porque empatamos por 1 a 1, jogando mal como sempre. Mas o pior ainda estava por vir. Entramos em 2025 para a reta final de classificação à Copa de 2026 e, logo em março, já tínhamos um confronto direto em casa contra a Colômbia, onde a vitória seria imprescindível. Lá em Brasília (20/03/25), vencemos novamente os colombianos por 2 a 1, no sufoco, com um gol nos acréscimos de Vinícius Júnior. Mas a luz amarela estava acesa, porque o próximo jogo seria em Buenos Aires. Entre um jogo e outro, Raphinha deu uma entrevista ao Romário, onde foi induzido a dizer o seguinte: "Raphinha, porrada neles?", perguntou Romário. E o Raphinha, infantilmente, mordeu a isca e respondeu: "Porrada neles, dentro de campo e se precisar fora também." Bom, era o que faltava, caso faltasse algo, para os argentinos entrarem em campo loucos para amassar a gente. Sem Messi, eles nos atropelaram e ainda o falador Raphinha tomou tapa na cabeça, mão no rosto e obviamente ficou quietinho, inerte e assustado como todo o time. Foi um vexame histórico no dia 25/03/25, porque no Monumental de Nuñez, totalmente lotado, deram um baile na seleção brasileira, fazendo 4 a 1, fora o "Olé, Olé, Olé" que a torcida argentina cantou o jogo todo. Foi vergonhoso o modo da derrota, porque eles poderiam ter feito 5, 6 ou 7 gols, mas preferiram nos humilhar. Depois disso, a casa caiu geral, a vergonha bateu no teto e o mau futebol e a fragilidade da seleção brasileira ficaram insuportáveis. Caiu Dorival Júnior e todo mundo junto, inclusive o presidente Ednaldo Rodrigues. Ele fechou, finalmente, com Carlo Ancelotti antes de cair, e entrou um novo presidente, chamado Samir Xaud, que era totalmente desconhecido interinamente, mas que na sequência foi eleito como candidato único. Ancelotti assumiu, convocou pela primeira vez com ajuda, mas o ambiente mudou por completo, porque a expectativa voltou a ser positiva. Afinal de contas, chegou um dos melhores e mais vencedores treinadores da história do futebol. Estreou num empate por 0 a 0 contra o Equador (5/06/25), no Estádio Isidro Romero Carbo, na altitude de Quito, e a seleção já mostrou organização tática e personalidade, mesmo vindo do banco com seu novo treinador. Em seguida, fazendo uma boa partida, veio a vitória por 1 a 0 contra um bom Paraguai (10/06/25), na Neo Química Arena, e já animou um pouco mais. Até chegarmos agora, em agosto de 2025, para fazermos as duas últimas partidas das Eliminatórias. Com mais conhecimento, já habituado e com conceitos definidos em sua cabeça, Carlo Ancelotti fez a sua primeira convocação com real domínio do ambiente e dos jogadores que poderia ter em mãos. Deixou claro que quem não estiver 100% fisicamente dificilmente terá chances de ir para a seleção. Carlo Ancelotti pediu para o jogo contra o Chile (4/09/25) ser no Maracanã, para realizar um sonho pessoal, mas também para iniciar o processo direto de reaproximação da torcida com a seleção, que já está em andamento graças à sua chegada. Vencemos por 3 a 0 numa ótima partida, amassando o Chile como se fosse ataque contra defesa. Não fez nada além da sua obrigação? Verdade. Mas antes nem isso fazíamos, ou já esqueceram do empate com a Venezuela, que pela primeira vez conquistou ponto contra o Brasil em Eliminatórias? E agora, nesta terça-feira (9/09/25), enfrentaremos, na última rodada, uma Bolívia que ainda luta pela repescagem. Será a primeira vez que jogaremos em El Alto, com 4.150 metros acima do nível do mar. Ou seja, uma altitude enorme, maior que La Paz, em que já era complicado jogar. A Bolívia está tentando de tudo para vencer o Brasil e voltar a disputar uma Copa do Mundo depois de 1994, quando foi a seleção que venceu a brasileira pela primeira vez em Eliminatórias. Em 25 de julho de 1993, no Estádio Hernando Siles, em La Paz, a Bolívia venceu por 2 a 0. A Bolívia foi para a Copa de 1994, e o Brasil foi tetracampeão mundial naquele torneio. Caso aconteça uma derrota nesta terça-feira, não causará dano algum no processo iniciado por Carlo Ancelotti, porque os objetivos são outros e seu trabalho apenas começou. Mas uma vitória nessa altitude terá um resultado emocional e de confiança gigantesco para o seu trabalho. Bom, esse foi o mapeamento da nossa participação nessas Eliminatórias. Fomos goleados pelos rivais levando "olé", perdemos três jogos seguidos, não vencemos a Venezuela e ainda foi a primeira vez que eles ganharam pontos da seleção brasileira. Tivemos três treinadores na competição, caiu presidente da CBF e sentimos na pele, pela primeira vez, a possibilidade de ficarmos de fora ou de disputarmos a repescagem. Foi a pior performance da seleção nas Eliminatórias. Alguns vão citar que em 2002 precisamos vencer a Venezuela na última rodada para classificação, mas naquela época o Felipão tinha de onde tirar, porque o número de jogadores talentosos era enorme. A seleção se complicou pela desorganização da CBF, que também demitiu vários treinadores, só que naquela época tínhamos time. Enfim, o mapa é esse!