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Análise dos Times

Fluminense

Principal

Motivo: O artigo usa o Fluminense como estudo de caso principal para analisar a relação do time com a derrota e a pressão do torcedor.

Viés da Menção (Score: 0.0)

Motivo: Mencionado apenas como adversário na eliminação do Fluminense, sem análise de viés.

Viés da Menção (Score: 0.0)

Palavras-Chave

Entidades Principais

Renato Gaúcho Fluminense Lanús Pedro Dep Leonardo Lichote Douglas Ceconello

Conteúdo Original

na newsletter ' Na última terça, Renato Gaúcho pediu demissão do Fluminense diante das câmeras, depois da eliminação na Sul-Americana para o Lanús no Maracanã. Não foi apenas um treinador cansado que saiu de cena: foi um gesto que escancarou algo mais profundo. "A partir de agora vai estar outro cara aqui, e eu quero ver se ele vai colocar o time que o torcedor quer ou o time da cabeça dele", disse, mirando os "gênios da internet" que, segundo ele, passaram a ditar escalações e humores. O tom foi dramático, como convém a Renato, mas também revelador. Concordando ou não com seus argumentos, o fato é que o episódio tem cara de sintoma: o futebol brasileiro parece ter adoecido. E a doença, como sempre, tem múltiplas origens. Alguns bons textos surgiram justamente nas redes sociais na semana sobre o tema. O jornalista e influencer botafoguense Pedro Dep, do @setorvisitante, já vinha apontando como a lógica das redes contaminou a arquibancada. A cultura digital é imediatista, agressiva, ansiosa. O feed pede resultado instantâneo e a timeline não perdoa recaídas. Não é mais (só) a cobrança barulhenta no portão do CT, mas uma plateia invisível que pauta dirigentes, jogadores e técnicos. O que antes era discussão de arquibancada virou julgamento em praça pública, com hashtags de acusação e memes que corroem qualquer confiança no trabalho de longo prazo. O técnico já não discute com a imprensa: responde à sombra de uma massa difusa, que nunca se dá por satisfeita. Leonardo Lichote, jornalista, mas que escreveu como torcedor tricolor e observador do mundo que é, acrescentou outra camada: mesmo quando um clube reencontra competitividade, como aconteceu com o Fluminense nos últimos anos, a insatisfação não arrefece. Pelo contrário, parece se multiplicar. É a "síndrome do vencedor inconformado": mesmo em boa fase, a cobrança assume ares de tragédia. Uma eliminação, ainda que pontual, basta para transformar conquistas recentes em miragem. O Fluminense de Renato, eliminado da Sul-Americana, foi semifinalista do Mundial e ainda está vivo na Copa do Brasil. A sensação de que "não basta" se impõe como regra. No limite, o trabalho de um treinador passa a ser julgado não pelo todo, mas pelo tropeço mais recente — e, na lógica febril das redes, tropeço é qualquer coisa que não seja levantar taça. Outro jornalista, Douglas Ceconello, em seu blog Meia Encarnada, no ge, vai ainda mais fundo ao nomear o fenômeno: a vitória virou produto, e o torcedor virou cliente. O raciocínio é empresarial. Se paguei, exijo retorno. Caso contrário, cogito boicote, abandono, público zero. O clube deixa de ser comunidade e vira lanchonete, onde a frustração é tratada como falha no serviço. O "nós perdemos" se dissolve em um "eu fui enganado". Não há mais pactos, só contratos. E, no contrato, a derrota é cláusula abusiva. Quando se olha para o quadro completo, o fio que costura tudo isso fica claro. O técnico não aguenta mais ser questionado, o torcedor não aguenta mais perder, o clube não sabe como mediar essa relação. Todos cansados, todos culpados. Renato, com sua saída abrupta, deu rosto a uma sensação difusa: a falência da convivência com a derrota, que sempre foi parte constitutiva do jogo. E é aí que mora a reflexão necessária. O futebol sempre foi feito de frustração. A alegria nasce justamente da raridade do triunfo. Sofrer junto, rir junto, se consolar no bar ou na arquibancada: essa sempre foi a essência. O pacto nunca foi de felicidade garantida, mas de pertencimento. Torcer é aguentar: vinte anos sem título, noventa de sofrimento, a certeza de que a vida é mais perda do que ganho. É um contrato de sofrência, e não de consumo. O que Renato expôs, ainda que em tom amargo, é que estamos nos esquecendo disso. Se o futebol está doente, talvez a cura esteja em recuperar essa dimensão irracional, dura e coletiva. Aceitar que a derrota não é acidente de percurso, mas parte do caminho. Porque, no fim, torcer é um exercício de resistência: continuar de mãos dadas mesmo quando a bola insiste em não entrar. Até que ela entre.