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Análise dos Times

Brasil

Principal

Motivo: O texto exalta a chegada de Ancelotti e a alegria em campo, focando na identidade e cultura do futebol brasileiro recuperadas.

Viés da Menção (Score: 0.6)

Motivo: Mencionado como clube onde Luiz Henrique foi formado e conquistou a América, de forma positiva mas secundária.

Viés da Menção (Score: 0.2)

Palavras-Chave

Entidades Principais

botafogo estevao brasil cbf ancelotti luiz henrique chile

Conteúdo Original

Em tempos de sentimentos acalorados é apenas natural que Ancelotti esteja sendo saudado como o salvador. Fazia tempo que não víamos uma seleção alegre em campo e eis que um italiano chega para nos reconciliar com nossa identidade e com nossa cultura. Parece ser esse o caso. Parece, mas ainda não temos elementos para acreditar que seja. Um jogo bom não faz Copa. Um jogo bom não deveria nos fazer pular em êxtase como um pardal da manhã. Ou deveria? Estamos há tanto tempo entristecidos com essa camisa que a resposta talvez seja "sim, deveria". Acho que alegria é sempre bem vinda e gosto bastante da ideia de celebrar com orgulho as pequenas conquistas. Mas o que mais me chamou a atenção no time montado por Ancelotti foi um certo respeito ao descontrole. Um dos traços mais patológicos na sociedade atual é a obsessão pelo controle. Todos os coaches, todos os políticos, todo sistema empresarial está organizado em torno dessa ideia: o controle sobre si e sobre o mundo ao redor. Chamam isso de liberdade. Trata-se de uma ficção, e de uma maldade. Mas, como a ideia é bem vendida e fartamente distribuída, ela é quase um consenso. Pouco refletimos sobre o fato básico: é impossível ter autonomia se ela depender de controle. Essa maluquice em busca de uma certa ideia de autonomia ainda vai nos matar porque ela nos convida a sermos indivíduos isolados uns dos outros. Vivemos em relação, somos corpo social e nos afetamos a todo instante. Liberdade é enxergar o outro e compreender que todo movimento que faço terá impacto no grupo. Ancelotti talvez saiba disso e honrou o descontrole, especialmente nas posições de Estevão e Luiz Henrique. Os dois correram como bem quiseram pelo campo e, por causa da ousadia, reorganizaram o time, que foi convidado a bailar no ritmo deles. Foi como estar de volta às suas infâncias - nas palavras de Luiz Henrique, que disse ter sido, por uma noite outra vez, aquele menino que jogava bola no Vale do Carangola. O atleta, formado em Xerém e que conquistou a América com o Botafogo, soube compreender o que tinha acontecido na partida. Enquanto o sistema defensivo atua para recuperar a bola - e aí todos são exigidos na tarefa -, o sistema ofensivo, que começa a operar quando a bola é recuperada, convida alguns jogadores ao descontrole. Estevão e Luiz Henrique correram o campo inteiro e Luiz Henrique, com trinta minutos em campo, fez o que há anos não víamos nessa seleção. Faz sentido que um gringo chegue aqui e diga: soltem-se. Brinquem. Divirtam-se. Respeitem a cultura de vocês. Respeitem o coletivo. Pois é desse arrebatamento que virá a nova liga com a torcida. A CBF deveria baixar os preços dos ingressos, abrir os treinos, traçar uma estratégia para que a seleção volte a ser paixão nacional. A camisa amarela e o time que a veste perderam contato com o povo e recuperá-lo exigiria mais do que campanhas publicitárias e hashtags. Passa por devolver o futebol às suas raízes populares - e Ancelotti começou bem nesse sentido. E passa por um time que respeite nossa cintura e nossa criatividade. O jogo era fácil demais, o Chile é a pior seleção do continente. Precisaremos de mais confrontos para entender o que Ancelotti vai fazer com esse time. E agora dependemos de amistosos até a Copa, já que a próxima partida das eliminatórias pode ser descartada. A quatro mil metros do mar não temos como compreender coisa alguma a não ser o estado de saúde dos pulmões de quem lá estiver.