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Nem todo 0 a 0 é silêncio ou monótono. No Maracanã, Flamengo e Cruzeiro fizeram daqueles duelos que respiram futebol mesmo sem a rede balançar. Teve intensidade no primeiro toque, pressão coordenada, trocas de corredor, inversões que acharam gente livre e um punhado de duelos individuais que valem o ingresso. Faltou o gol, sim. Mas sobrou jogo. O Flamengo tentou acelerar por dentro, atrair para abrir as beiradas, empurrar a última linha rival para dentro da área. O Cruzeiro respondeu com bloco alternando alturas, controle emocional, contra-ataques desenhados com paciência e coragem para sair tocando quando a bola queimava. Foi xadrez e foi boxe: estratégia e impacto, leitura e fricção. Nos detalhes, a história ficou no quase: cobertura pontual que evitou o passe do nocautear, zagueiro que se estica um centímetro a mais, goleiro bem posicionado, e o último toque que não casou com a penúltima ideia. Um empate com cara de jogaço, desses que deixam lições, repertório e casca. Quem viu de camarote e gostou foi o Palmeiras. Sem precisar entrar em campo, assistiu a dois concorrentes trocarem forças e ficarem no mesmo lugar. É a sorte, merecida, de quem organiza o calendário, administra a maratona e entende que, no Brasileirão, cada tropeço alheio vale meio passo a mais. No Rio, o 0 a 0 teve conteúdo; em São Paulo, teve sorriso. A disputa entre os três segue aberta no Brasileiro e ainda promete fortes emoções.