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O lançamento da GE TV deixou a mídia esportiva em polvorosa. Conseguirá mamãe Globo bater de frente com o império construído por Casimiro Miguel e seus brothers? Quem vai e quem fica? Onde se encaixam ESPN e Grupo Disney nessa briga? Quem realmente importa em um mundo cada vez mais dominado por múltiplas telas? No que diz respeito à formação de ídolos no futebol, aqueles que serão adorado, aos reis das novas gerações, arrisco dizer que nenhuma delas. Nem Globo, nem Cazé, nem ESPN, nem eu, nem ninguém da chamada mídia tradicional. Com um filho de quase 6 anos obcecado por futebol (juro que tenho culpa apenas indiretamente), sou submetida a uma infinidade de horas semanais de conteúdo do YouTube voltado para o mundo da bola e do videogame. "Ah, mas meu filho não vê televisão nem sabe o que é um videogame." Parabéns para você. Como o meu vê e joga, acabei me interessando pelos jovens que criaram seus canais bem novinhos e hoje vivem disso com certa tranquilidade. Aqui em casa, assistimos basicamente a caras de uns 20 anos que fazem desafios de futebol com os amigos, viajam para ver jogos legais ou inventam umas maluquices nos games — como escalar um time com 11 Cristianos Ronaldos (inclusive como goleiro) ou disputar partidas com um Messi minúsculo, que vai ganhando altura conforme marca gols. O que me chama a atenção é o impacto que estes vídeos, na sua maioria gringos, têm no meu filho, um menino brasileiro de 6 anos de idade. Hoje, ele é capaz de identificar a imagem e escrever Kevin De Bruyne, mas não Kaio Jorge. Haaland, mas não Ademir da Guia. Oblak, mas não Oberdan. Conhece Van der Saar, Pirlo, Mbappé, Zidane, Maradona, Suárez e figuras históricas como Jairzinho, Carlos Alberto, Garrincha, Zico e Pelé (graças às cartas das "lendas"), enquanto pouco sabe de atletas brasileiros que não passaram pela Europa, ou não jogam atualmente por Flamengo ou Palmeiras. Suas principais referências? Messi e Cristiano Ronaldo. E é aqui que entra, na minha opinião, a influência gigante destes produtores de conteúdo. A volta ao mundo que dão para ver de perto o jogador X ou Y, a emoção que sentem ao encontrá-los, a euforia ao conseguir um autógrafo, ou apenas a alegria de poder tê-los no seu time de mentira, tudo isso vai construindo algo sólido e que a grande mídia nunca vai alcançar. Afinal, por que um garotinho ou garotinha de 8 anos pararia para ouvir a mim e meus colegas falando sobre a atuação de fulano ou sicrana, ainda que de um jeito "descontraído", quando o Futcrunch está lá no Japão dando a vida para chegar perto do Haaland? Ou o Oussi vai tentar ver ao vivo Messi, pela Copa América, e CR7, pela Eurocopa, em menos de 48 horas? Eu jamais serei capaz de replicar diante das câmeras a reação do Vagabito ao conseguir montar uma seleção brasileira com Pelé, Maradona e Beckenbauer. Tendo a acreditar que meus colegas de profissão e eu temos muito menos importância do que pensamos. Feliz ou infelizmente, quem vai determinar os sucessores do ET e do Robozão não somos nós. Talvez estes pioneiros ainda estejam aprendendo a escrever, como o meu filho: "Mãe, Cucurella é com um ou dois LLs?" Siga Alicia Klein no Se inscreva no Assine a