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Clubismo, antipatia pelo tribunal de justiça desportiva, desejo ardente por uma punição. Não faltam motivações para que as pessoas queiram pena severíssima para Bruno Henrique, suspenso por 12 jogos e multado em R$ 60 mil. Mas há provas que possam sustentar tão grande penalidade? Vamos lá. Existe um argumento insistentemente utilizado para defender pena maior do que a aplicada pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). O de que na primeira conversa por texto ele teria dado informação privilegiada a respeito de um terceiro cartão amarelo que levaria contra o Santos. Contudo, o diálogo de WhatsApp entre Bruno e Wander, o irmão, ocorreu em 29 de agosto de 2023. Perguntado sobre quando levaria o terceiro amarelo, o atacante responde que contra o Santos. Mas quando essa peleja aconteceu? Exatos 64 dias e oito jogos depois. Foi uma resposta séria ou aleatória, como quem descarta o assunto? Não parece razoável afirmar que o jogador estava prevendo um cartão tão distante. Seria, inegavelmente, uma dica precisa para apostadores se a resposta fosse: contra o Botafogo. Sim, a partida realizada quatro dias depois, na qual Bruno Henrique levou o terceiro cartão amarelo dele no Brasileirão 2023. Na 19ª das 84 páginas do inquérito se lê: "Na sequência chama atenção a mensagem enviada por Wander questionando Bruno se este não poderia 'tomar um cartão hoje', conforme trecho: 'Da pra tomar um cartão hoje não' e Bruno responde: 'Da não', 'Tenho 1 já'. Data da conversa: 7 de outubro de 2023, quando se enfrentaram Corinthians e Flamengo. E Bruno Henrique levou cartão amarelo. O diálogo mostra que, havia "o interesse de Wander Junior em receber uma informação privilegiada de Bruno Henrique a respeito do recebimento de cartão", como relata o documento, e que o atacante não a forneceu ao irmão. Ele provavelmente não sabia que seria advertido, inexistiam motivos para que o Flamengo quisesse vê-lo forçando uma advertência, pois sequer estava . Mas estabeleceu diálogo que, como outros detectados, não deveria existir e foram a razão da punição aplicada, como será explicado à frente. Adiante o camisa 27 do Flamengo esteve novamente pendurado com um par de advertências antes do jogo contra o Santos, em 1° de novembro, oitavo após o diálogo de 29 de agosto. Seria o nono, caso o cotejo diante do Red Bull Bragantino não fosse, posteriormente, adiado para 23 de novembro. Aí vem um trecho importante do inquérito policial deste caso. Na véspera da partida, às 13h57, Bruno Henrique enviou a seguinte mensagem a Wander: "'Aí lembra a parada que vc me pergunto uns tempo atrás', tendo Wander respondido: 'Do que?' Bruno, então, faz uma ligação para Wander pelo WhatsApp." Atenção para o que relata o inquérito em seguida: "É provável que a ligação realizada por Bruno Henrique para Wander Junior, principalmente em virtude das conversas travadas por eles anteriormente, fosse para avisar a Wander sobre o cartão amarelo que Bruno 'forçaria' para receber na partida a ser realizada no dia seguinte (1/11/2023) entre Flamengo e Santos, conforme segue: Bruno: 'Ai lembra a parada que vc me pergunto uns tempo atrás' WanderJúnior: 'Do que?'". Adiante, um sinal de que o diálogo por pode ter sido para tratar da dica de aposta. Relata o inquérito que em 9 de dezembro de 2023, às 10h43, Wander enviou outra mensagem a Bruno: "Fala mano bom dia beleza? Pra você ter ideia sabe a parada que você me deu ideia do Santos até hoje eles não pagou (?)". O inquérito segue: "O trecho indica que Bruno Henrique de fato teria informado de forma privilegiada a Wander Junior sobre o cartão amarelo que este forçaria para receber no jogo entre Flamengo e Santos realizado no dia 01/11/2023". E continua: "Na sequência, Bruno Henrique informa: 'Tendi nada oq vc falou aqui Juninho'. Wander responde: 'Fala aí mano, o que você não entendeu?'. Bruno retruca: 'Isso aqui'. Chama atenção a resposta a seguir de Wander: 'No dia que você me deu ideia do cartão, eu apostei 3 mil pra ganhar 12 mil. Só que até hoje eles não pagou(?)'". Na sequência da reprodução desse diálogo se lê no inquérito: "deixa ainda mais claro que Bruno Henrique teria informado de forma antecipada a Wander Junior sobre o cartão amarelo que deveria receber na partida de futebol entre FLAMENGO x SANTOS (?)". Em suma, o inquérito usa palavras como "provável", "indica", "teria", além de expressões como "deixa ainda mais claro". Contudo, não apresenta provas irrefutáveis de que o diálogo telefônico entre os irmãos foi sobre o cartão amarelo que levaria contra o Santos. Por ter dialogado a respeito, por não ter rejeitado a abordagem de Wander sobre tal tema, uma punição a Bruno Henrique faz sentido. Mas como defender penalidade mais severa sem provas claras e contundentes de que ele deu a informação sobre o cartão amarelo? Por maiores que sejam, suspeitas e desconfianças não são provas. Talvez 12 jogos e R$ 60 mil pareçam pouco, mas o que sustentaria um ano de suspensão, por exemplo? Atenção às próximas linhas. Bruno Henrique foi absolvido no artigo 243 do Código de Justiça Desportiva, o que trata de manipular e prejudicar uma equipe de forma deliberada. Acabou sendo punido no artigo 243-A. E o que diz o 243-A? "Atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009)". E qual a punição para quem se enquadra em tal artigo? "Multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de seis a doze partidas". Adiante se le o "Parágrafo único", que detalha: "penas serão de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de doze a vinte e quatro partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta (...). Siginifica que ele pegou pena mímima no artigo em que foi enquadrado. Poderia ficar o dobro de partidas fora, mas não houve provas que sustentassem uma penalidade maior Os cartões amarelos de Bruno Henrique no Campeonato Brasileiro de 2023: 1° cartão: Fortaleza 1/7 2° cartão: Coritiba 20/8 3° cartão: Botafogo 2/9 4° cartão: Goiás 20/9 5° cartão: Corinthians 7/10 6° cartão: América 26/11