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As categorias de base são o primeiro passo na trajetória esportiva de milhares de jovens e precisam ser espaços seguros e íntegros. Por reunirem atletas em formação e em situação de maior vulnerabilidade, a ausência de políticas eficazes de prevenção pode abrir brechas para casos de assédio físico, psicológico e sexual. Garantir estruturas sólidas de proteção é essencial para que o talento se desenvolva sem que a dignidade e o bem-estar desses adolescentes sejam colocados em risco. Nos últimos meses, episódios em grandes clubes do País escancararam como a falta desses mecanismos ainda expõe jovens atletas a situações de risco. No Atlético-MG, denúncias de assédio sexual, moral e humilhações no ambiente de trabalho levaram à demissão de funcionários do departamento de fisioterapia e a um acordo judicial após investigação interna. Já no Corinthians, casos semelhantes motivaram a criação de uma cartilha de proteção voltada às categorias de base, com orientações sobre prevenção, conduta e canais de denúncia. Os episódios revelam não apenas a urgência de respostas imediatas, mas principalmente a necessidade de estruturas e mecanismos permanentes que impeçam que novas situações ocorram. Para o advogado Gustavo Nadalin, especialista em conformidade, a prevenção passa pela criação de uma estrutura robusta de compliance, capaz de atuar de forma proativa: "Para salvaguardar atletas — não só menores de idade — e todos seus colaboradores, os clubes devem implementar uma estrutura de compliance proativa e abrangente, que englobe a formulação de códigos de conduta rigorosos, políticas claras de prevenção ao assédio e a promoção de uma cultura de transparência. É fundamental estabelecer canais de denúncia acessíveis e confidenciais, garantindo que todas as comunicações sejam investigadas de forma imparcial e célere, com a aplicação de sanções adequadas quando comprovadas as violações", afirma. "Além disso, o mais importante: promover programas contínuos de capacitação e educação para atletas, pais e colaboradores sobre direitos, deveres e combate a qualquer forma de abuso, a fim de criar um ambiente seguro e íntegro para o desenvolvimento dos jovens talentos", acrescenta. Enquanto muitos clubes ainda dão os primeiros passos nesse sentido, alguns já estruturaram políticas internas voltadas à proteção e ao desenvolvimento seguro de seus atletas de base. É o caso do Ibrachina FC, clube fundado em 2020 a partir de um projeto cultural e que se tornou referência nas categorias de base do futebol paulista, incorporando práticas de integridade e prevenção ao assédio como parte central de sua gestão. Segundo o presidente do clube, Henrique Law, a política de tolerância zero é o principal pilar. "O Ibrachina FC adota uma política de tolerância zero a qualquer forma de assédio ou abuso nas categorias de base. Temos protocolos claros de proteção integral, que envolvem regras de conduta para técnicos e funcionários, monitoramento das atividades em ambiente seguro e incentivo à participação da família no acompanhamento da formação dos atletas. O cuidado central é garantir que o processo esportivo seja também um espaço de proteção e desenvolvimento humano", destaca. O dirigente ressalta ainda que o clube formalizou práticas e criou ferramentas específicas para assegurar a integridade dos jovens. "O clube estruturou um Código de Conduta específico para a base, treinamentos obrigatórios para todos os profissionais, canal de denúncias seguro e independente. Tudo isso reforça nosso compromisso com um ambiente de respeito, integridade e proteção aos jovens atletas", completa. Num cenário em que o futebol de base segue sendo a porta de entrada para milhares de jovens sonharem com a carreira profissional, garantir um ambiente seguro, ético e livre de abusos é um passo essencial e urgente para que o esporte cumpra também sua função de formar cidadãos. .