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A torcida organizada do Santos entrou no CT para dar pito nos jogadores depois dos seis a zero para o Vasco. A invasão foi, sob muitos aspectos, uma violência e não podemos concordar com esse tipo de atitude. Mas não quero aqui falar da violência da invasão em si, quero falar do tom usado pelas lideranças da torcida para se dirigir ao ídolo Neymar. Foi um tom de esculacho e de avacalho que tocou em pontos sensíveis, como o choro depois da derrota para o Vasco e o bate-boca com o torcedor durante partida na Vila. Neymar, tigrão com o torcedor durante o lamentável episódio da briga em Santos, estava gatinho diante da torcida que invadiu o CT. Não está acostumado a levar sabão, especialmente sabão público, e ainda é incerto como reagirá a essa cena constrangedora - mais uma nessa série de muitas. A carreira de Neymar está em apuros. A decadência é visível e as dúvidas sobre a esperada volta por cima - aguardada desde 2022, ou mesmo antes - se aprofundam. Rejeitado pelo Sauditão, acabou no Paulistão e no Brasileirão sem se mostrar minimamente decisivo. Agora, escrachado em campo pelo Vasco, foi esculhambado pela própria torcida que resolveu dar lição de moral no camisa 10. As imagens não são bonitas de se ver. Neymar escutando com cara de quem queria sair correndo dali, as lideranças falando com autoridade, como quem fala com uma criança mal-educada, o CT lotado de torcedores que invadiram, bagunça, polícia na porta, tensão por todos os lados, uma tristeza. Neymar tem todos os recursos para voltar a jogar bola. Mas já não acreditamos mais que isso aconteça porque o craque vive cercado de bajuladores incapazes de fazer as críticas corretas que o levariam a amadurecer e a se implicar na decadência de sua carreira. Ele e mais ninguém é agente de tudo o que está acontecendo. Escolhas erradas, vaidades exacerbadas, brigas e tretas, pouco treino, muita festa, paparicos demasiados, badalação. A imagem de um homem apequenado sendo moralmente destruído por sua própria torcida no CT, em ritual de pito público à luz do dia, é bastante triste de ser testemunhada. Resta saber o que fará Neymar a partir desse melancólico episódio. Vai se voltar contra a torcida, ameaçar ir embora, fazer o papel da vítima, ou vai encarar o espelho e compreender tudo o que fez para se colocar onde está? A julgar pelo que temos até o momento, a primeira opção parece a mais coerente com os valores éticos do craque e daqueles que o cercam.