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O técnico Roger Machado sofreu ataques racistas nas redes sociais após a eliminação do Internacional nas oitavas de final da Libertadores. Na última quarta-feira (20), o Colorado voltou a ser derrotado pelo Flamengo, desta vez por 2 a 0, e deu adeus à competição continental. Após a partida, criminosos usaram as redes sociais para proferir ataques preconceituosos contra o comandante do clube gaúcho, uma das principais vozes do futebol brasileiro na luta antirracista. "Tendo o macaco do Roger como treinador não é de se esperar menos", diz um dos comentários feitos no X (antigo Twitter). A advogada Alessandra Ambrogi, especialista em direitos humanos, lamentou o episódio. Ela reforça que os ataques racistas sofridos pelo treinador configuram crime no Brasil e também violam normas internacionais do esporte. "Do ponto de vista jurídico, após a Lei nº 14.532/23, a injúria racial passou a ser tratada como crime de racismo, com pena de até 5 (cinco) anos de reclusão, além de multa, sendo crime inafiançável e imprescritível. Ou seja, esses torcedores podem ser identificados, processados criminalmente e punidos de forma exemplar", afirma. Em âmbito esportivo, a especialista conta que a Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/23) e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) preveem sanções específicas contra atos de discriminação racial praticados por torcedores, que vão desde proibição de acesso aos estádios até perda de mando de campo do clube, além de multas e possibilidade de exclusão de competições em casos extremos. Alessandra destaca o papel da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos clubes na adoção de medidas rígidas de combate ao racismo no futebol brasileiro. "A Fifa possui diretrizes claras de tolerância zero contra o racismo. A entidade determina que as federações nacionais e os clubes devem adotar medidas rígidas de prevenção e repressão, podendo aplicar punições como jogos com portões fechados, perda de pontos e até exclusão de torneios quando houver omissão. A Fifa entende que a luta contra o racismo não é apenas uma questão disciplinar, mas de proteção à dignidade humana e ao espírito do esporte", ressalta a advogada. "O racismo no esporte é crime e afronta direta aos valores de respeito, diversidade e dignidade humana — e não pode ser tolerado sob nenhuma circunstância", acrescenta. Não é de hoje que o futebol mundial convive com a triste realidade de ataques racistas contra atletas e dirigentes, seja nas redes sociais ou nas arquibancadas dos estádios. Na Inglaterra, a zagueira da seleção Jess Carter foi alvo de insultos raciais na internet após atuação na vitória por 3 a 2 sobre a Suécia, nas quartas de final da Eurocopa 2025. Após receber uma enxurrada de ataques por conta de seu desempenho, a atleta decidiu se afastar das redes sociais. "Embora cada torcedor tenha direito à sua opinião sobre desempenho e resultado, não concordo nem acho que seja aceitável atacar a aparência ou a raça de alguém. Estou tomando essa medida para me proteger e tentar manter meu foco em ajudar o time de qualquer maneira que puder", escreveu a jogadora em uma publicação no Instagram. Nesta semana, um torcedor do Liverpool foi banido dos estádios ingleses após proferir insultos racistas contra o atacante ganês Antoine Semenyo, do Bournemouth, durante a partida que abriu a temporada 2025/26 da Premier League. Ele foi identificado pelas autoridades locais e detido. Situação parecida ocorreu na Alemanha. Em dois jogos da primeira rodada da Copa da Alemanha, nos confrontos entre Leipzig (4ª divisão) e Schalke 04 (2ª) e entre Stahnsdorf (5ª divisão) e Kaiserslautern (2ª), insultos racistas contra jogadores negros foram registrados nas arquibancadas. A federação de futebol do país abriu investigações sobre os episódios. Marcelo Carvalho, fundador e diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, comentou sobre os recentes episódios de racismo no futebol mundial. "Mas sobre esse caso, ou casos como esse, me chama a atenção que aconteceu na Alemanha, na Inglaterra e agora esse do Roger Machado. É como se negros e negras não pudessem errar, pra nós o peso da balança é sempre maior. E os xingamentos são sempre na desumanização", disse. "O futebol atravessa todas as barreiras, principalmente de classes sociais, por isso é fundamental aproveitar essa audiência para promover práticas antirracistas que sirvam de exemplo para a sociedade", acrescentou. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou como "incidentes inaceitáveis" os episódios de racismo ocorridos nos dois jogos da Copa da Alemanha no último fim de semana e pediu às autoridades do país que tomem medidas. "É aterrador ver que, pela segunda vez nos últimos dias, tenham ocorrido insultos racistas no futebol", declarou o mandatário em um e-mail da entidade enviado aos veículos de imprensa alemães. "Repito e continuarei repetindo: não há espaço para o racismo ou qualquer outra forma de discriminação no futebol. Estamos decididos a garantir que os jogadores sejam respeitados e estejam protegidos e que os organizadores das competições e as autoridades tomem as medidas apropriadas", concluiu o presidente da Fifa. .