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Cada vez mais cedo, crianças e adolescentes são direcionados a treinos intensos em busca de rendimento e resultados rápidos. O problema é que o corpo deles ainda está em pleno desenvolvimento, especialmente músculos, ossos e articulações, e não está preparado para suportar altas cargas e estressores repetitivos. A exposição precoce a treinamentos especializados aumenta o risco de lesões por excesso de uso e pode comprometer não só a saúde física, mas também o desenvolvimento emocional e a motivação pelo esporte. O fisioterapeuta esportivo tem um papel central nesse contexto. Além de prevenir lesões, esse profissional ensina os jovens a se movimentarem de forma eficiente e segura, com exercícios específicos e progressões graduais. O acompanhamento permite que pais e treinadores compreendam a importância do descanso adequado, tanto entre sessões de treino quanto em períodos competitivos, e que os atletas tenham tempo para recuperação física e mental. Recomenda-se, por exemplo, um ou dois dias de folga por semana, além de dois a três meses de pausa anual, devendo ser dedicados a outras atividades e esportes como forma de manter a criança ativa e em possibilidade de outras experiências esportivas. Não podemos confundir treino recreativo com alto rendimento. A rotina recreativa foca em diversão, socialização e aprendizado de habilidades, com intensidade moderada e horários flexíveis. Já o treino de alto rendimento é estruturado, progressivo e envolve metas de desempenho, com pouca diversificação de movimentos. O risco surge quando a criança passa mais tempo em treinos intensos do que em atividades recreativas. Sob essas condições há um aumento da sobrecarga física e emocional, que pode levar ao afastamento do esporte. Os sinais de alerta são claros e devem ser observados de perto: dores persistentes, fadiga recorrente, perda de interesse pelo esporte e queda no rendimento. Essas manifestações físicas e emocionais podem indicar que a especialização precoce está comprometendo o desenvolvimento saudável. Por isso, o acompanhamento de profissionais da saúde, fisioterapeutas e educadores físicos é essencial. A diversificação esportiva é uma das estratégias mais eficazes para reduzir riscos e favorecer o desenvolvimento integral do jovem atleta. O Comitê Olímpico Internacional (COI) e modelos de desenvolvimento adotados no Brasil e em outros países recomendam que as crianças experimentem diferentes modalidades antes de se especializar. Essa abordagem não só diminui a chance de lesões e burnout, como também contribui para habilidades motoras mais completas, melhora o desenvolvimento cognitivo e psicossocial, e pode até facilitar o caminho para o alto rendimento no futuro. O foco deve estar no aprendizado, na diversão e no bem-estar. Resultado e competição são importantes, mas devem surgir de forma gradual, acompanhando a evolução do corpo e da mente do jovem atleta. Com orientação adequada, rotina equilibrada e atenção aos sinais do corpo, é possível garantir que a prática esportiva seja prazerosa, segura e duradoura, promovendo saúde, desenvolvimento e longevidade esportiva.