Conteúdo Original
Entre , séries, documentários e teatro, o que temos como entretenimento durante a chatíssima Data Fifa? As salas de cinema, os streamings e os teatros oferecem obras para todos os gostos, e eu usufruí muito dessas opções, como faço todo final de semana. Vou começar indicando uma série documental revoltante, assustadora, que mostra o descaso dos governos do mundo com as pessoas. Na Netflix, estreou na semana passada a série/documental . Tem três episódios contando como ficaram as pessoas depois que o Furacão Katrina devastou o sul dos Estados Unidos, mas principalmente o estado da Louisiana, mais especificamente a região metropolitana da cidade de Nova Orleans, em 29 de agosto de 2005. Causando inundações generalizadas devido às falhas dos diques da cidade, que resultaram em milhares de mortes, um grande rastro de destruição e milhões de desalojados. O Katrina foi uma das tempestades mais devastadoras da história americana, com 80% da cidade de Nova Orleans ficando submersa. Essa trágica história é contada através de imagens de arquivos inacreditáveis, com entrevistas da época, imagens dos telejornais, simultaneamente com depoimentos atuais de pessoas que deram entrevistas naquele momento. É desesperador olhar o que eles passaram, principalmente por falhas nas informações, narrativas falsas de que "era só uma chuvinha" e um grande descaso do governo de George W. Bush, como relatam as vítimas que perderam familiares, amigos e tudo que possuíam. Essa série é de 2025, e as cobranças de descaso, principalmente das áreas mais pobres da cidade, mostram que as ações de ajuda dadas pelo governo começaram pelo centro financeiro da cidade e não por onde estava sendo devastado. Vale a pena assistir para entendermos realmente o que aconteceu e qual foi o tamanho daquela tragédia, de que dez anos depois as pessoas ainda não conseguiram se recuperar emocionalmente, e nem a cidade conseguiu se reerguer totalmente. Os depoimentos atuais são dolorosos e revoltantes pelo desespero que demonstram pelas perdas de muitas crianças naquela tragédia. Continuando no streaming, estreou no domingo (31/8), no Max, uma série fortíssima que conta a evolução da epidemia da no Brasil na segunda metade da década de 80: É uma minissérie brasileira idealizada por Thiago Pimentel, criada por Patrícia Corso e Leonardo Moreira, que também assinam o roteiro, e tem na direção Marcelo Gomes e Carol Minêm. A história se baseia em comissários de bordo que têm como chefe de cabine o Nando, incrivelmente interpretado pelo ator Johnny Massaro, que é gay e tem uma vida sexual livre, com aventuras, sem se preocupar — até que contrai o vírus do HIV. Junto com Léa, também maravilhosamente interpretada pela atriz Bruna Linzmeyer, que também é comissária, fazem um plano para contrabandear o AZT, que foi o primeiro antirretroviral imprescindível para os pacientes com /AIDS, principalmente naquele período, e cujo uso ainda era proibido no Brasil. O objetivo deles era tentar salvar o máximo de vidas de pessoas infectadas por aqui e lutar contra a desinformação e o enorme preconceito que existia. Serão cinco episódios, saindo um por semana, sempre aos domingos às 23:00 no Max. Portanto, hoje à noite sairá o segundo da série. Eu fiquei impressionado porque vi como tudo aquilo começou, perdi alguns amigos para essa doença e acompanhei revoltado com o também descaso ou falta de atitude, mesmo com muitos infectologistas da época dando entrevistas e explicando a gravidade da situação. Mas naquela época já existiam, mesmo sem internet e celular, as narrativas falsas, a desinformação e as mentiras sobre todos os assuntos — mas principalmente sobre as características desse vírus e como se transmitia. É uma série importantíssima, porque ainda hoje existe um número enorme de contaminações e mortes pela Aids, de que pouco se fala, e fica parecendo que a doença não existe mais. Mas ela existe e continua matando. A outra indicação é para quem curte filmes de terror, sendo de possessão demoníaca com histórias verídicas. Nessa quinta-feira (4), estreou em todas as salas dos principais cinemas do país o filme do gênero mais esperado do ano: . Para quem assistiu toda a franquia, sabe como esse filme, que conta as histórias do casal Ed e Lorraine Warren, é forte e assustador pela forma realista com que é filmado. Temos, como em todos os outros, Patrick Wilson como Ed Warren e a incrível Vera Farmiga como Lorraine Warren. É o caso mais dramático e difícil, porque envolve um trauma de um caso antigo não resolvido. Esse encerra os filmes sobre as investigações sobrenaturais do casal, iniciadas em 2013 por James Wan. Eu assisti todos, e para mim, esse foi um dos que mais me prenderam à história por ser mais complexo. Adorei o primeiro e o segundo, mas achei o terceiro fraco. Não tinha dúvida de que esse último seria do jeito que eu pensei que fosse. Para quem gosta desse gênero, pode ir correndo para alguma sala de cinema que não se arrependerá. E por último, vou indicar uma peça que assisti pela quarta vez, porque é muito introspectiva e de muita reflexão. Todas as vezes que você assiste, algo diferente faz sentido. A gente sempre sai com respostas. É um monólogo que estreou em 2006, com a idealizadora desse espetáculo, que é a brilhante atriz Clarice Niskier: , que está no Teatro Cultura Artística, aqui no centro de São Paulo, na Rua Nestor Pestana. O monólogo se baseia totalmente no livro de 1998 do escritor Nilton Bonder. A interpretação da Clarice é algo inacreditável, porque sozinha no palco ela desconstrói e reconstrói conceitos milenares da história da civilização. Com muita força quando o texto pede, mas também com desenvoltura e simpatia quando para e conversa com o público, fazendo reflexões conjuntas, debatendo momentos de suas falas. É um texto profundo que bate forte dentro da gente, causando diversas dúvidas, reflexões. Mudamos de direção ou continuamos da mesma forma, mas ninguém sai ileso de um debate interno sobre conceitos, princípios, valores e crenças. Fui na última sexta-feira (5) e, como sempre, saí com um reforço muito forte que adquiri quando assisti pela primeira vez, que fez tanto sentido para mim que, em qualquer situação difícil que enfrento na vida, eu me comporto daquela forma: "Sempre que tenho pela frente decisões importantes, principalmente em dificuldade, eu faço como falou Moisés ao povo de Israel: 'Eu marcho na direção do problema com muita força e decisão, porque o meu Mar Vermelho se abrirá.'" Não é questão religiosa, nem judaica, nem católica, nem de nenhuma religião, mas sim filosófica — de não temer o inimigo e as dificuldades, e sim enfrentar e resolver. Bom, essas são as minhas dicas culturais para quem quiser assistir durante a semana, a próxima semana ou mesmo hoje.