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Neymar senta no campo do Morumbi supostamente desolado quando acaba a goleada vexatória imposta pelo Vasco ao Santos. É consolado pelo técnico adversário Fernando Diniz em uma cena que chama a atenção para ele após o resultado. Depois do jogo, ele fala em vergonha e diz que todo mundo "tem que botar sua cabeça no travesseiro e pensar no quer quer fazer". Acrescenta que, desse jeito, não precisa nem se apresentar na próxima quarta-feira. Com variações, é clássica declaração drástica de dirigente, treinador ou jogador após derrotas acachapantes de grandes clubes. Em resumo, "to dando a cara e tem que mudar isso tudo daí". Na realidade, é uma forma de se colocar como indignado, proativo, que não aceita esse estado das coisas. Um discurso de revolta e pedido de mudança. Mas Neymar não é o fator de revolução no Santos porque ele é o status quo. O jogador e sua família são diretamente responsáveis pela construção do atual modelo esportivo e de gestão do Santos que levou ao cenário atual. Não, eles não são responsáveis pela crise financeira história do clube, mas, sim, para a solução que foi proposta para o problema. Toda a ideia de time de futebol santista foi feita em torno dele. Foi por Neymar que se realizou um contrato de R$ 85 milhões por cinco meses com um jogador que passou boa parte do tempo machucado e, quando recuperado, se limita a dribles esporádicos e um ou outro gol. Foi por Neymar que a diretoria santista decidiu que um clube quebrado deveria investir muito além das suas possibilidades financeiras em seguidos reforços. Foi pela presença de Neymar que o presidente Marcelo Teixeira afirmou que seu elenco era muito melhor do que o do Vasco e não deveria aceitar derrota no 1º turno. Foi o pai de Neymar que deu entrevistas seguidas falando praticamente como um investidor do Santos, um benfeitor, um sócio. Recém-promovido da Série B, o Santos se planejou para ser um grande personagem do futebol nacional em um projeto calcado em uma mega estrela que não consegue mais entregar futebol de alto nível há dois anos. Um craque hoje ainda imaginário. Pode ser que isso seja diferente no futuro, em alguns meses, mas essa é a realidade em agosto, com oito meses do ano. Neste cenário, não faz sentido Neymar dar uma declaração falando que todo mundo tem que repensar tudo como se ele fosse apenas um jogador. Todo mundo quem, meu caro? Esse projeto é seu, quem tem fracassado: você, seu pai e a diretoria santista juntos. Sentar no campo não vai apagar isso.