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O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a 12 jogos de suspensão, além de multa de R$ 60 mil. "Houve uma ingenuidade de Bruno Henrique de passar essa informação tática. Esse tipo de compliance esportivo precisa ser reforçado. Os clubes precisam passar isso para os seus jogadores. As bets vieram para ficar", disse o presidente da 1ª Comissão Disciplinar, o auditor Marcelo Rocha. O julgamento teve sete horas e meia de duração. Os auditores absolveram Bruno Henrique em relação ao artigo 243, que trata de "atuar deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende". Ao ser enquadrado nesse dispositivo, ele poderia tomar até 720 dias de gancho. "Não enxergo na conduta do primeiro denunciado a conduta do tipo 'atuar de forma deliberada contra sua equipe'. Não se mostra cabível a punição", resumiu o relator do caso, o auditor Alcino Guedes. Mas a visão dele e dos demais foi diferente em relação ao segundo artigo no qual BH foi denunciado, o 243-A. "O resultado da partida não é só o placar final, mas tudo o que pode advir ou derivar. Embora receber o cartão amarelo não seja o dolo específico de prejudicar a equipe, pode influenciar no resultado do campeonato. Entendo que a conduta se amolda ao artigo 243-A, para influenciar no curso da partida e a consequência que teria na competição. Entendo que houve violação à ética desportiva. E isso se limita às conversas com o irmão Wander. Mas a participação foi fundamental, algo que permitiu a Wander ser o articulador das apostas tidas como suspeitas", acrescentou o relator do processo. O voto de Alcino foi acompanhado pelos auditores William Figueiredo, Carolina Ramos e o presidente da comissão, Marcelo Rocha. "O atleta tem conversas desde agosto de 2023, apontando, trazendo informações sobre quando seria, falou para olhar no Google. Isso para mim é antidesportivo", disse William. Guilherme Martorelli chegou a trilhar um caminho mais brando. Ele abriu uma divergência para emplacar uma multa de R$ 100 mil a Bruno Henrique, entendendo que nenhum dos artigos inseridos inicialmente na denúncia poderiam ser aplicados no caso. Em uma longa sessão, o STJD rejeitou a alegação inicial do Flamengo e da defesa de Bruno Henrique de que o caso estava prescrito. Houve divisão no entendimento dos auditores (placar de 3 a 2), mas o caso continuou na pauta do dia. Esse argumento sobre prescrição voltará a ser analisado pelo Pleno. Houve depoimento também do delegado Daniel Cola, que conduziu a investigação da Polícia Federal. Bruno Henrique acompanhou boa parte da sessão de forma virtual. Não prestou depoimento, mas deu uma declaração rápida. "Eu gostaria de afirmar a minha inocência e dizer que confio na justiça esportiva, jamais cometi as infrações que estou sendo acusado. Meus advogados estão aí e falarão por mim durante a defesa do processo. Faço questão de mostrar o meu respeito e a minha total confiança nesse tribunal,e desejo um excelente julgamento a todos, que tudo transcorra de forma leve e justa. E uma boa tarde a todos, só isso. Obrigado". Bruno Henrique, atacante do Flamengo A defesa do Flamengo afirmou que não se sentiu prejudicada pelo cartão levado pelo jogador. O advogado de Bruno Henrique chegou a tentar que o árbitro do Flamengo x Santos de 2023, Rafael Rodrigo Klein, fosse chamado para depor - o que adiaria o julgamento. Mas isso não foi aceito pela comissão disciplinar. O caso veio à tona após relatórios de monitoramento do mercado de apostas indicarem movimentação incomum para o cartão amarelo de Bruno Henrique contra o Santos. O STJD foi um dos órgãos que receberam o alerta da Agência Internacional de Integridade de Apostas (Ibia, sigla em inglês). Em uma primeira análise, o tribunal arquivou o caso. Mas depois, a investigação chegou à Polícia Federal, autora da operação que encontrou as conversas com o irmão no telefone celular. Com os fatos novos, o STJD abriu um novo inquérito e, em agosto, veio a formulação da denúncia. Na Justiça Comum, Bruno Henrique já virou réu e foi enquadrado no artigo 200 da Lei Geral do Esporte: "Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado". A pena é de dois a seis anos de prisão, além de multa. Todas as provas colhidas na investigação policial foram compartilhadas com o STJD. As principais são conversas entre Bruno Henrique e o irmão no Whatsapp. O jogo entre Flamengo x Santos ocorreu no dia 1º de novembro. Bruno Henrique recebeu o cartão amarelo, que seria o seu terceiro, no final da partida — ainda levou um vermelho pouco depois. No dia 9 de dezembro, Wander mandou uma mensagem longa para o atleta do Flamengo. Ele pede dinheiro emprestado para pagar pensão e o cartão de crédito. No meio da mensagem, ele afirma: No dia seguinte, 10 de dezembro de 2023, Bruno Henrique respondeu: "Vou ver isso aí Juninho" Na sequência, ele mandou uma espécie de comprovante bancário. O atleta do Flamengo ainda escreveu: "Pegando o dinheiro vc paga em". Esse e outros diálogos custaram a punição a Bruno Henrique. Poderia ser pior. De todo modo, Flamengo e o jogador vão recorrer. A tendência é que a procuradoria também recorra, buscando uma pena mais grave. Os outros quatro denunciados no caso são atletas amadores. Wander Nunes Júnior - o irmão de Bruno Henrique: 12 partidas de suspensão Claudinei Vitor Mosquete Bassan: Sete partidas de suspensão Andryl Sales Nascimento dos Reis: Douglas Pina: 6 partidas