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O Grêmio anunciou, na noite desta terça-feira (8), que a Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou o pedido para anular os cartões recebidos por Marlon (amarelo) e Kannemann (vermelho) na derrota por 1 a 0 para o Red Bull Bragantino, no último sábado, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro. "Pela primeira vez a Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva acatou a tese de um clube e está pedindo ao STJD a suspensão dos efeitos dos cartões aplicados a dois atletas durante uma partida", diz um trecho da nota publicada pelo Grêmio. O zagueiro foi expulso aos 43 minutos do 1º tempo e o lateral recebeu o amarelo nos acréscimos do 2º tempo, ao reclamar do pênalti assinalado a favor do time paulista. "O pedido é em caráter liminar. A partir de agora, o presidente do Tribunal pode tomar uma decisão a qualquer momento", diz o clube em outro trecho. Na partida, o árbitro Lucas Casagrande (PR) anotou pênalti para o Massa Bruta nos minutos finais após revisão no VAR. Após o apito final, o lateral-esquerdo Marlon fez um grande desabafo, em que criticou abertamente a atual situação da arbitragem brasileira. "Eu vou falar categoricamente. O Grêmio foi prejudicado e está sendo roubado. Outras equipes também. A gente nem profissionaliza nossos árbitros, eles não têm suporte. E eles são, sim, influenciáveis", disse o jogador. "Ele (árbitro) olha o lance aonde estou com o braço recolhido, e marca pênalti. No GreNal também tiveram erros (contra a gente). Isso se repete, repete, repete. CBF, profissionalizem os árbitros. Melhora a qualidade do teu produto. Não tem condições assim", completou. Para a advogada Fernanda Soares, caso o tribunal acata a tese do Grêmio e anule os cartões aplicados na partida, será aberto um precedente perigoso. Ela lembra que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê que "as decisões disciplinares tomadas pela equipe de arbitragem durante a disputa de partidas, provas ou equivalentes são definitivas, não sendo passíveis de modificação pelos órgãos judicantes da Justiça Desportiva". "As decisões da equipe de arbitragem não podem ser modificadas pelos tribunais de justiça desportiva. Mas há exceções à esta regra no caso de infrações graves que tenham escapado à atenção da equipe de arbitragem, ou em caso de notório equívoco na aplicação das decisões disciplinares. É o que prevê o artigo 58-B do CBJD. Esse notório equivoco, na minha interpretação, é um erro de direito", afirma a especialista em direito desportivo. "Por se tratar de uma decisão da Procuradoria e não do Tribunal, entendo que ainda não temos um precedente. Por sua vez, para que possamos avaliar se a questão é perigosa ou não, devemos aguardar a decisão final do tribunal e sua efetividade", avalia o advogado Matheus Laupman. A advogada Fernanda Soares explica que o que precisa ser demonstrado é que, neste caso do Grêmio, houve de fato um notório equívoco, grave o suficiente para que o tribunal tome a decisão de interferir na decisão da arbitragem. "Essa não é uma análise que deve ser feita à luz de paixões, nem sem uma profunda reflexão. Erros de arbitragem, geral, são erros de fato, ou seja, erros de interpretação. Erros de fato não podem ser analisados pelo tribunal. Somente o erro de direito, que é o erro de desconhecimento da regra", acrescenta a advogada. Especialistas ouvidos pelo Lei em Campo também reforçam que o precedente levaria muitas polêmicas de campo para o Tribunal, o que deixaria muitos dos jogos abertos no campeonato, até a decisão definitiva. Para eles, isso traria um prejuízo grande para a estabilidade das competições, um dos pilares do esporte. Ainda no último domingo (5), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou o afastamento do árbitro Lucas Casagrande e do árbitro de vídeo Gilberto Rodrigues Castro Junior. O mesmo aconteceu com Ramon Abatti Abel (árbitro) e Ilbert Estevam da Silva (VAR), que trabalharam no clássico entre São Paulo e Palmeiras. .