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Não sabemos quem ficará com as taças que ainda faltam, mas já temos o dono da história de 2025: o time da cidade de Mirassol. A cidade paulista de Mirassol, de 60 mil habitantes, fica a 464 quilômetros da capital do estado e, há alguns anos, decidiu investir pra valer no time de camisa amarela - uma jornada de amor e de respeito que deveria servir de lição para todo o futebol nacional. Vamos ao começo da construção desse sucesso que o Brasil está testemunhando. Em 2018, o São Paulo vendeu Luiz Araújo para a França, e o Mirassol, que havia revelado o jogador, embolsou um dinheiro com o qual não contava. O dinheiro foi usado na construção de um moderno Centro de Treinamento. A partir daí, o trabalho se profissionalizou, e tanto a base quanto o time principal foram diretamente afetados. Um resumo do espetáculo: em 2020, o Mirassol disputava a série D do Brasileiro. Em 2022, já na série C, conquistou o acesso para a B com o título. Tentou pular para a série A já no primeiro ano, mas acabou em sexto e se manteve na B. No ano seguinte, em 2024, chegou finalmente à elite. Uma história cheia de suor e de beleza cujo protagonista é um time que se orgulha da cavalgada e, assim como o Fortaleza, respeita o caminho. Mas então chegamos a 2025. Vem o Mirassol com o discurso de que o objetivo é se manter na série A. Nós, ingênuos, acreditamos. Só que o Mirassol queria mais. Um time que investe em si mesmo de forma consistente desde 2018 (embora exista há 95 anos) e que sabe perfeitamente que trabalho, respeito e honestidade garantem resultados - ainda que não possamos garantir quando. O Mirassol é, na 22º segunda rodada, o quarto colocado do Brasileirão. Não apenas isso: tem se apresentado em partidas absurdamente bem jogadas e lutadas. A mais impressionante delas foi a disputada contra o Botafogo no Nilton Santos nesse 17 de setembro. O Mirassol perdeu o primeiro tempo por 3 x 0. Parecia uma noite feliz para o Fogão e infeliz para o visitante: viria uma goleada? O time desceu para o vestiário e, nas palavras de Chico da Costa depois da partida: "sabíamos que nada do que estava acontecendo era o fim do mundo". Voltar e lutar. Apenas isso. O resultado não estava dado, mas a disposição no segundo tempo precisaria mudar. O Mirassol veio diferente mesmo e marcou logo na saída de bola. Fez o segundo, empatou e só não virou porque faltou aquela sorte final - uma sorte que ao Palmeiras em 2023 não faltou. Um empate heroico e formador de personalidade. Um time que cresce a cada jogo e que emociona todos os que estiverem atentos ao que ele vem fazendo. Quando falarem que o Corinthians tropeça porque não tem elenco, ou que o São Paulo pode não chegar por causa do elenco, ou que o Fluminense patati-patatá porque, afinal, faltou elenco pensem no Mirassol e entendem como essas desculpas são vazias. Não há jogador ruim na série A do Brasileirão. Pode haver jogador em má fase, mal treinado, deprimido, com problemas pessoais. Mas grossos não existem, embora o folclore nos mande encontrá-los. Um time bem treinado, bem preparado, bem organizado, respeitado por seus dirigentes e unido pode praticamente tudo. Por trás desse sucesso, um homem que não gosta de aparecer: Junior Antunes, dono de uma rede de supermercados na cidade, apaixonado pelo time e dedicado a pensar modelos para fazer a estrutura crescer com segurança. Se o Mirassol tem uma cara, é a de Juninho - como é conhecido. Quando disserem que falta dinheiro para o time A ou B ser mais competitivo, pensem no Mirassol. Quando tentarem convencê-los de que um clube precisa virar SAF para não morrer, pensem no Mirassol. Uma instituição que preza pela circulação de afetos que é capaz de gerar entre seus cidadãos, que reinveste o dinheiro em si mesma, que constrói. Liderado por Rafael Guanaes, um jovem treinador que ainda não conquistou títulos de expressão nacional, o Mirassol joga com coragem e organização. Não teme os mais ricos, os mais badalados, os mais populares. Sabe que construir é no passinho e que, inevitavelmente, haverá tropeços. A história do Mirassol deveria ser compreendida pelo que ela é: o desbloqueio da imaginação, a revelação de novos horizontes para as mentes fixadas em enxergar o futebol apenas como negócio e em pregar que clubes sejam vendidos a um empresário. O Mirassol joga a luz onde a luz estava em falta.