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Análise dos Times

Motivo: O texto detalha o esforço de Acaz Fellegger para auxiliar o jornalista Julio Gomes a obter entrevistas exclusivas com membros da seleção portuguesa, especialmente Felipe Scolari e Cristiano Ronaldo, demonstrando um claro viés de apoio e admiração.

Viés da Menção (Score: 0.7)

Motivo: O time é mencionado no contexto da possível transferência de Cristiano Ronaldo, sem uma carga de viés específica no relato.

Viés da Menção (Score: 0.0)

Motivo: O time é mencionado no contexto da possível transferência de Cristiano Ronaldo, sem uma carga de viés específica no relato.

Viés da Menção (Score: 0.0)

Palavras-Chave

Entidades Principais

Chelsea Manchester United Cristiano Ronaldo Real Madrid CBF Sportv Julio Gomes Acaz Fellegger Felipe Scolari Seleção Portuguesa Copa do Mundo de 2002 Euro 2004 Euro 2008 Gazeta Palmeiras-Parmalat Bandsports

Conteúdo Original

Fellegger, meu amigo. Você nos deixou. Eu não sei ainda se acredito. E também não sei se vou me perdoar um dia por não ter te dado tchau. Você se lembra da minha última ligação a você? Foi em maio, acho. Fazia um tempo que não nos falávamos. E um amigo em comum me disse que você não estava legal de saúde. Eu te liguei. Você atendeu daquele jeitão de sempre. Meio Zé braveza. "Fala Julio. Do que você precisa?". E eu te disse. Não preciso nada, Acaz, só queria saber como você está. E você me pareceu bem, sei lá, talvez não tenha querido me assustar ou incomodar. Mas havia algo diferente naquela ligação. Alguma confusão em alguma frase. E você não era confuso em nenhuma frase. Tinha algo estranho ali. E você me pediu para ir te visitar na tua casa. E eu não fui, meu amigo. Não fui porque estava na correria do Mundial de Clubes, e depois eu realmente esqueci, e depois tem a loucura do dia a dia, muito emprego, muito filho, muito hobby, muitas tarefas. Sempre temos uma desculpa, né, amigo? No meu caso, levarei para sempre esse remorso. A verdade é que não tem desculpa. Agora entendo que você queria se despedir. E eu não fui. Eu lembro muito bem de quando te conheci. Copa de 2002. Quer dizer, eu te conhecia de antes. Era um consumidor voraz de esportes. E você era o Acaz de Almeida. Repórter da Gazeta. Aí mudou para o Sportv e virou Acaz Fellegger. O austríaco Fellegger. Foi uma boa decisão, amigo, sempre te disse isso quando estávamos no terceiro copo. Ou quarto. Quando cheguei lá na Coreia, você era o uma espécie de assessor de imprensa extra oficial da seleção. O da CBF era o Rodrigo Paiva. Mas você era o do Felipão e uma penca de jogadores. A turma do Palmeiras-Parmalat. Eu te achava muito bravo. Tinha até medo de você, eu tinha só 22 anos, era um moleque na primeira Copa. Um ano e pouco depois daquela aventura, eu estava em Madrid, já tinha ido morar lá, e precisava ir a Lisboa para pegar minha cidadania portuguesa. Outros tempos. Nada era tão fácil e tão barato como hoje, eu precisava dar um jeito de ir para Lisboa. Tomando banho, pensei. "Pô, vou ligar para aquele Acaz e ver se ele descola uma entrevista com o Felipão para vender aqui na Europa". E eu criei coragem e te liguei. E você foi super legal. Antes de desligar, me perguntou, daquele teu jeito. "Você não teve problema com o Felipe não, né? Porque se teve ele vai olhar na tua cara e não vai falar com você". Hahaha. Eu me divirto me lembrando de tudo isso. Você só chamava o homem de Felipe. Nunca de Felipão. Nunca de Scolari. Nunca de Luiz Felipe. Era só Felipe. "Teu pai", como brincava. Eu desliguei o telefone e fiquei pensando se eu tinha tido algum problema com o Felipão. Mas não tinha. Você não sabe como foi importante aquela viagem para mim, amigo. Porque daquela entrevista saiu uma outra amizade que tenho comigo até hoje. E sim, a entrevista deu certo e a cidadania deu certo e tudo mais. A partir dali, nossa relação mudou, né? E seis meses depois estávamos juntos na Euro de 2004, em Portugal. E foi aí que eu conheci o Acaz que alguns poucos privilegiados puderam conhecer. Porque a dinâmica do trabalho, das relações entre jornalistas, jogadores e assessoria pode ser mesmo muito ruim e tensa. Mas ali na Euro éramos só nós dois. Estávamos fadados a nos entender. E tomar cerveja todos os dias. "Duas imperiais", falava você na mesa, qualquer que fosse a mesa, aquela voz grossa, de trovão. Eu demorei um monte de tempo para saber que você tinha problema auditivo e por isso (também) falava tão alto, sempre parecendo estar dando bronca em alguém. Eu ia a todos os jogos de Portugal com a camisa da Lusa, e você passou os 20 anos seguintes contando isso para todo mundo sempre que nos encontrávamos e lembrávamos daquela Euro. Aí Portugal ganha da Inglaterra daquele jeito e todo mundo se interessa pela Euro no Brasil. Afinal, era o Felipão. O Felipe. Mas no dia 25 de junho, dia seguinte da partida, toca meu celular e você me fala: "Teu aniversário amanhã, né? Tenho um presente para você". E no dia 26 quem fez a exclusiva com o cara que todo mundo queria ouvir fui eu. "Você acreditou desde o começo, Julio!". Esse era você, Acaz. Um justiceiro da nossa profissão. E fiz a primeira entrevista do Felipão no Chelsea, em Macau. E ele também participou do podcast Futebol Sem Fronteiras, comigo e Jamil Chade, aqui no . E também do Depois no Jogo inaugural, no Bandsports. E tantos outros jogadores "teus" me atenderam sempre que puderam, porque você me respeitava e os caras acreditavam em você. E eu sempre fiz o que precisava fazer, com profissionalismo. Essa era a chave. Você era um profissional, amigo. Um profissional que abraçava as causas de teus clientes de uma maneira que nunca vi ninguém fazer. Às vezes, eu achava exagero. Às vezes, eu achava que os caras sequer mereciam o estresse pelo qual você passava - e que, em alguns casos, gerava. E te falei algumas vezes disso, conversamos muitas vezes, discordávamos sobre alguns colegas. Você sabia sobretudo que podia confiar no meu profissionalismo, como confiou quando me contou em 2008 sobre o Cristiano Ronaldo. Um caso à parte, né, Acaz? Será que hoje eu posso contar para todo mundo? Acho que sim. Neuchatel era a cidade. Onde estávamos juntos para a Euro-2008 e, por uma questão financeira, resolvemos dividir o quarto do hotel. Na frente do lago, lembra? Caramba, Acaz, como você roncava, seu safado! O problema não era o ronco. É que você já dormia em 15 segundos. E aí fomos juntos para o hotel de Portugal, porque você precisava "conversar com o Felipe". Ninguém entrava no hotel de Portugal, mas nós entramos. Você foi lá para dentro e eu fiquei tomando um café tranquilo, lendo o jornal do dia. Fazíamos muito isso, né, amigo. Ler jornal. Saber o que está sendo falado, onde quer que a gente esteja. E aí você voltou uma meia hora depois branco, pálido, incomodado, nervoso. Eu vi, mas fiquei quieto. Já tinha aprendido que você nervoso.... ai ai ai. Melhor ficar longe. Mas perguntei. "E aí, o que aconteceu?". E você: "Nada, não". E eu: "OK". E depois de uns 20 metros eu pergunto. "O que aconteceu?". E você contou que estava com uma informação nas mãos e estava pensando em como fazer. Era só o Cristiano Ronaldo que queria deixar o mundo saber que ele queria deixar o Manchester United para jogar no Real Madrid. E o Felipão que não queria que esse tema atrapalhasse Portugal na Euro. Coisa simples. E te dei umas quatro ideias, mas nenhuma delas servia. Até que falei. Oras, Acaz. Eu publico isso no Brasil. E faço rodar na Europa. E você, o Felipe, o Cristiano e a assessoria de Portugal toparam. Tudo precisava estar encaixado, todo mundo precisava confiar em todo mundo. E foi o que fiz. Foi o maior furo da minha vida, mas ninguém deu bola no Brasil. Um ano depois, o rapaz foi mesmo para o Real Madrid. Ele avisou o United através da gente - na imprensa. E aí só saiu um ano depois. "Acaz, se o Felipão ou o Cristiano negarem essa porra, vocês acabam com minha carreira". "Fica tranquilo, Julio". E depois do jogo de Portugal, Cristiano gira a zona mista inteira sem dar entrevistas, vê o Acaz, me vê, me cumprimenta e dá um abraço em cada um. "Tá vendo, Julio, tá vendo, Julio!". Foi demais aquela Euro de 2008. Portugal perdeu nas quartas, mas fomos juntos de trem até Viena e ganhei de você a aposta naquele Espanha x Itália. Eu te avisei que a Espanha ia ganhar, Fellegger! Foram tantas viagens, tantas conversas, tantos almoços no japonês que ficava do lado do teu escritório, lá na zona oeste. Eu adorava teu escritório, com as camisas autografadas dos teus clientes. E as revistas, os jornais, as fitas, o teu arquivo. Um arquivo de quem amava o que fazia verdadeiramente. Você era louco por estatísticas, era um preciosista, preocupado com o dado correto, a informação correta. Éramos também fás de rock n' roll de verdade e você me levou para ver Iron Maiden no Morumbi no camarote. Programa patrão! Você sempre falou muito sobre "lealdade" para mim. E acho que essa relação foi tua grande conquista. Muita gente não gostava de você. Eu entendia as razões, mas sempre expliquei para quem quisesse ouvir que você era um cara profissional e leal. Que era um ótimo coração. E que muitas vezes perdia a linha. Você melhorou ao longo dos anos, amadureceu, a paternidade e a Patrícia te fizeram muito bem. Ficamos uns velhos saudosistas que a cada vez que nos encontrávamos ficávamos falando mais do passado do que do presente ou do futuro. Eu garanto a todos os clientes que o Acaz teve que ele foi um assessor absolutamente fora do comum. Ninguém me ajudou mais na profissão do que você, Fellegger. E talvez isso tenha acontecido porque viramos amigos "de graça", sem que um precisasse do outro, ainda que um sempre que possível ajudasse o outro. Você revolucionou a assessoria de imprensa esportiva e é uma pena que teu legado tenha sido deixado no caminho pela maior parte dos colegas. Inspirou muitos, no entanto, tenha certeza disso. Trabalhar com você não tinha mentirinhas ou sabonetadas, era tudo na lata. Eu sempre gostei disso. E você me dizia sempre. "Juuuuuulio. Você conhece a Europa, toda, mas não conhece teu continente, Julio. Você precisa viajar, ir a estádios no Peru, no Paraguai, no Uruguai". Enquanto escrevo, amigo, estou no avião rumo a Lima. É a primeira perna. Estou indo para La Paz, Fellegger. Vou lá conhecer a altitude para parar de falar de teorias e conhecer a prática. Do jeitinho - ou jeitão - que você me falava para fazer, Fellegger. Não poderei me despedir de você amanhã, amigo. Mas minha próxima cobertura será inteiramente em tua homenagem. Fique em paz, Acaz. Você verdadeiramente merece descansar.