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O técnico do Flamengo, Filipe Luís, já deixou claro que não gosta de comparações de seu time atual com o montado por Jorge Jesus em 2019, campeão brasileiro e da Libertadores. Alega que o português era um técnico melhor, que são atletas diferentes, que ele e sua equipe ainda estão vivendo sua trajetória. Há uma certa razão no receio do atual treinador brasileiro. Ao mesmo tempo, a campanha rubro-negra no Brasileiro de 2025 torna quase inevitável que se olhe para trás já que supera em pontos a da Série A de 2019 se considerarmos a 22ª rodada. O atual Flamengo conseguiu um ponto a mais, 50 contra 49. Mas a verdade é que os dois trilham caminhos bem diferentes para chegar neste resultado parecido. Filipe Luís, embora já tenha admitido a influência de Jesus na sua formação, é um técnico com proposta diferente e bebeu em outras fontes durante sua carreira. É fato que há alguma similaridade: os dois fizeram 47 gols até a 22ª rodada, o que é uma marca impressionante. A marcação pressão exercida sobre os rivais, com a linha de defensa avançada para recuperar a bola rápido no campo adversário, também é um traço comum. Para por aí. Primeiro, a defesa armada por Filipe Luís mostra-se bem mais eficiente e há um foco prioritário na forma como o time se defende. Foram apenas 10 gols em 22 jogos, a equipe de Jesus tinha sofrido 20 no mesmo período - lembremos que as rodadas iniciais foram com Abel Braga. Há dois méritos de Filipe Luís: 1) em jogos de controle mesmo sem amassar, o Flamengo deixa o adversário muito longe do seu gol como se viu diante do Juventude. Sua postura para cortar contra-ataques é bem agressiva. 2) Quando precisa se defender com linha baixa, a equipe é extremamente eficaz em negar espaços, veja o caso do jogo com o Palmeiras no 1º turno. Ofensivamente, o atual Flamengo distribui mais os gols do que aquele anterior. Os dois maiores artilheiros, Pedro e Arrascaeta, têm 23 gols ou 48% do total. A dupla de Bruno Henrique e Gabigol somou 46 gols do total de 86, isto é, 53%. Aquela equipe tinha mais jogadores decisivos na frente, Arrascaeta e Everton eram os meias. O uruguaio, aliás, é mais letal e atacante atualmente: igualou seus gols no Brasileiro daquele ano (13) com 22 rodadas. Outro ponto é uma maior rotatividade do time, que tem mais opções no elenco. Em 2019, a escalação dos 11 era conhecidíssima. Mudava, havia atletas poupados, mas a base era quase fixa. O elenco rubro-negro tinha parcas soluções na reserva. Atualmente, Filipe Luís varia o time de acordo com rivais. Pedro era um titular intermitente até pouco tempo revezando com Bruno Henrique. Luiz Araújo substituiu Plata no domingo. O técnico preferiu Allan no lugar de Jorginho a De La Cruz que jogara na partida anterior. Não é que o técnico altere tanto o estilo, mas busca encaixes nas falhas e qualidades dos rivais. E aí está outra diferença: o nível dos adversários e do Brasileiro é bem mais forte atualmente do que era em 2019. Aquele Flamengo era brilhante, certamente ganharia a Série A hoje também, mas amassava os outros times sem dificuldades, raras exceções. O Palmeiras atual é melhor do que aquele de 2019, ainda que tenha pontuação só levemente superior (46 com 21 jogos x 46 com 22 jogos). Logo depois o Flamengo disparou e foi acabar o ano com mais de 10 pontos de vantagem, campeão com rodadas de antecedência. Havia um Santos de Sampaoli comparável a esse Cruzeiro atual, de Leonardo Jardim. Mas, na média, o nível técnico e tático no Brasil subiu nestes seis anos. Não se sabe se Filipe Luís vai confirmar o indicativo atual e cumprir uma campanha histórica. São 16 rodadas pela frente e cinco jogos de Libertadores se tudo der certo. Se isso acontecer, a comparação inevitável mostrará dois Flamengos diferentes.