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Não se sabe se o Flamengo ganhará o Brasileiro ou se repetirá o feito de 2019 somando também uma Libertadores. É meio óbvio que o torcedor rubro-negro ficará otimista pelas atuações recentes. Mas, no futebol, o ontem não é garantia do amanhã. Dito isso, esse Flamengo de Filipe Luís já proporcionou lances inspiradores que nos fazem relembrar que o futebol é uma chance de sonharmos para além da rotina massacrante. Haverá quem se prenda ao fato de o Rubro-Negro carioca ter batido o recorde de goleada do Brasileiro de pontos corridos. Mas os números não traduzem o que se deu no Maracanã, houve ali um quê de Balé Bolshoi. A coordenação que Jorginho e Saúl encontraram atuando como volantes, com apenas três jogos, é algo que causa deslumbramento. E olha que Filipe Luís nem via esta posição como a ideal para o espanhol. Foram os dois os responsáveis pela pressão resultantes em dois gols em menos de 3min. Também eram os que davam toques de primeira saindo de marcações ajustadas, retomavam bolas cortando a direção de passes. O terceiro gol rubro-negro é o ápice de futebol apresentado pelo conjunto de Filipe Luís até aqui. A bola passa de um lado para outro como se os jogadores pudessem enxergar o que pensavam seus companheiros no futuro. Até a conclusão de Arrascaeta após passe de Samuel Lino. A troca de passes em alta rotação e fluidez se repetiu no quinto gol, de Lino. A movimentação coletiva serviu para ressaltar as qualidades individuais. O que dizer do drible entre as pernas de Lino no gol de Luiz Araújo, ou do lançamento de Arrascaeta que Lino completou para o gol e foi salvo pelo zagueiro, ou do elástico de Pedro. Um corte daqueles que Lucas Halter guardará em sua memória. Lino e Pedro, diga-se, viveram dessas noites para lembrarem ao final de suas carreiras. O Flamengo mostrou respeito ao futebol ao manter o ritmo até oitavo gol, oitavo, gol. "Ah, mas o Vitória é galinha morta". É o mesmo time que empatou em casa com Palmeiras e Cruzeiro, e vendeu caro para o mesmo Flamengo uma derrota. Não viveu grande noite, mas jogos ruins em geral acabam em quatro gols rivais, não em oito. Ao final da partida, contido, Filipe Luís falou, sim, em jogo completo. Mas ressaltou que havia coisas a corrigir. Não se emocionou, não praticou a auto-exaltação. Pediu que não se espere esse tipo de placar no futuro. Só comprova sua obsessão pelo futebol, pelo seu "modelo de jogo", pela busca da perfeição. Foi essa mentalidade que permitiu que os jogadores rubro-negros vivessem suas noites mágicas. Parece difícil acreditar que não haverá outras.