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Em meio à Data Fifa, que sinceramente não tem graça nenhuma para as seleções da América do Sul, na minha opinião, não quero falar sobre futebol, e sim sobre cinema nacional. Nesse último final de semana, fui assistir ao filme Malês, com direção de Antônio Pitanga, que também atua. A história se passa em Salvador, em 1835, e conta o sequestro de africanos em sua terra natal para virarem escravos no Brasil. "Malês" era o termo usado para definir escravos muçulmanos que professavam o islamismo e, muitas vezes, eram mais instruídos que seus senhores. Bom, o núcleo da história é a Revolta dos Malês, idealizada pelos escravos africanos que sabiam ler, escrever e falar árabe, em sua maioria, e lutaram contra a escravidão e a imposição religiosa. Foi a maior revolução de escravizados da história do Brasil. O roteiro é muito bem escrito por Manuela Dias e retrata com muita perfeição a realidade histórica da cidade de Salvador daquele momento. Com atores excelentes, interpretando personagens de força e personalidade, que exigem muito foco e entendimento histórico mesmo. O elenco é incrível: o próprio Antônio Pitanga, Camila Pitanga, Rocco Pitanga, Patrícia Pillar, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Chico Dias, João Miguel, Samira Carvalho, Bukassa Kabengele (que é um ator congolês-brasileiro), entre outros. Todos com performances incríveis, mas gostaria de destacar Patrícia Pillar, que faz um papel muito desconfortável: o de uma escravagista cruel, racista e perversa. Imagino o quanto é conflitante interpretar um personagem desse tipo. O filme conta várias histórias paralelas que se juntam exatamente com a Revolta dos Malês. Por isso, quero também destacar a atriz Samira Carvalho, que faz um dos papéis centrais dessa trama, sendo uma das escravas líderes da revolução. É um filme que mexe muito com o nosso emocional e causa revolta, assim como os revoltados do filme. Recomendo muito, porque é um fato histórico da história do Brasil que vale muito a pena entender melhor. O jornalista e meu parceiro de livros — escrevemos três livros juntos (Casagrande e seus Demônios, Sócrates & Casagrande: Uma História de Amor e Travessia) — escreveu essa história em seu último livro, A Revolta dos Malês. Uma leitura imperdível, não só por causa do filme, mas porque essa história está muito bem escrita e detalhada por ele. O cinema nacional está atravessando seu melhor momento, entrando em cartaz com vários filmes incríveis, com tramas e estilos diferentes, e a grande maioria sendo premiada mundo afora. Malês é um ótimo filme.