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A informação está no boletim Perspectiva Global Reportagens Humanas, que a Organização das Nações Unidas (ONU) publica semanalmente. A denúncia é contundente. Entusiasmados com promessas de riqueza fácil e ascensão ao estrelato no esporte, na sua grande maioria para jogar o futebol profissionalmente, crianças e adolescentes de diferentes origens, vivendo em situação de pobreza extrema, viram presas fáceis para agenciadores que atuam deliberadamente nessa captura através de aliciamento ilusório e criminoso. Segundo o documento, as promessas vão de trabalho em academias esportivas até a assinatura de contratos para jogar futebol em clubes europeus, majoritariamente. O documento cita cifras que em muito superam o PIB de alguns países. A ONU calcula que o tráfico humano movimente algo em torno de US$ 470 milhões de dólares a US$ 1 bilhão de dólares anualmente. Cerca de 38% de todas as crianças do globo são vítimas do tráfico, sendo que 11% das crianças acreditam nas promessas desses agenciadores. O contexto mostra com clareza a perspectiva de pais e filhos de mudar o ciclo da pobreza para o de bem-estar, ansiosos e fragilizados na compreensão e entendimento dos riscos que as promessas escondem, entre elas trabalhos degradantes. Ainda segundo o informe da ONU, a movimentação financeira da indústria esportiva pode chegar a US$1,4 trilhão ao ano, cifras inimagináveis, porém legítimas, diante dos superávits, declarados ou não, pelos grandes agentes organizadores e detentores da exclusividade dos grandes eventos esportivos. Exemplo recente, a Copa do Mundo de Clubes da FIFA, nos Estados Unidos, rendeu algo em torno de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), reafirmando-se como a mais rentável competição entre clubes do mundo. A satisfação de Gianni Infantino com o sucesso financeiro, midiático e político do torneio, que também serviu à administração Trump, é diametralmente oposta àquilo que diz a Missão 89. A ONG, com sede em Genebra, na Suíça, mantém iniciativas que envolvem atletas, influenciadores (reais e do bem!) e formuladores de políticas públicas para promover mudanças políticas no combate à exploração de jovens atletas. O Brasil entrou de sola nessa contenda anos atrás, quando o presidente Lula, em seu segundo mandato, intimou o então presidente da FIFA Joseph Blatter a criar regras claras sobre a contratação, origem e documentação de jovens talentos futebolistas pelos clubes. Garotos aliciados em praças, clubes de pequeno porte e campinhos da periferia das grandes cidades brasileiras. O presidente foi apoiado por diversas ações do Poder Judiciário em estados e municípios. Mas reportagem da revista PLACAR de 2015, entretanto, deixou claro que, na prática, a situação mudou muito pouco. O forte e portentoso mercado futebolístico brasileiro continuou a atrair a atenção dos atravessadores dessa ilicitude. Joseph Blatter, como se sabe, foi escorçado da presidência da FIFA por corrupção anos depois e o que ele chamou de "escravidão moderna" no encontro com Lula, continua a existir como a ONU demonstra agora. Em janeiro deste ano, o Ministério da Justiça e Segurança Pública brasileiro organizou um Seminário Internacional para discutir e propor ações para este tema, com a participação de agentes públicos e privados, que contou com a participação do Ministério do Esporte e o Departamento das Nações Unidas, além de especialistas e fomentadores de políticas públicas do Brasil e de outros países. A elite mundial do futebol, notadamente clubes europeus, são sempre os primeiros onde agenciadores e espoliadores batem à porta em busca de algum negócio que resulte em lucro através desses adolescentes. Como acessam este difícil organograma cheio de regras de imigração, barreiras técnicas e até sanitárias, é parte do alerta emitido pelas Nações Unidas.