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Quando o astro da NBA Giannis Antetokounmpo veio ao Brasil, em junho, não foi por acaso que a Betano abriu o caminho para que ele trocasse camisa com o técnico e jogadores do time de basquete do Flamengo. A ocasião já fazia parte de um flerte de meses que teve encontros nada casuais, conversas de bastidores e, por fim, uma proposta que culminou com o maior patrocínio do futebol brasileiro. Serão R$ 268 milhões anuais, em um contrato que vai até o fim de 2028 e abrange exposição da marca nos times profissionais de futebol, basquete e vôlei, além dos uniformes de viagem dos esportes olímpicos. E isso não veio do dia para a noite, segundo o apurou. A primeira "ativação" subliminar do que viria a ser o patrocínio — aquele dia com a turma do basquete — mostrou o interesse com a marca Flamengo para além do futebol. O vínculo já está em vigor. Nesta semana, inclusive, o Fla já vai receber a primeira parcela: R$ 85,5 milhões. Vai ser uma parte importante para turbinar uma linha de receita (publicidade e patrocínio) que gerou R$ 320 milhões em 2024, segundo balanço do clube. Hoje, contra o Vitória, o Flamengo terá no espaço mais nobre da camisa a mensagem: "A Nação confia". É o primeiro recado da Betano, que representa também como foi o processo de amadurecimento desse negócio. O Flamengo já tinha o maior patrocínio máster do Brasil. Mas a parceira era a Pixbet. O espaço estava ocupado por ela desde o início de 2024, em uma negociação inflacionada pelos valores que o Corinthians conseguira com a Vai de Bet. A Pixbet passou da omoplata para o espaço mais nobre e traria uma perspectiva de R$ 470 milhões até o fim do contrato, que seria dezembro de 2027. Em 2025, o total anual seria R$ 115 milhões. A Pixbet naquela ocasião era uma força do mercado nacional de apostas. Mas perdeu espaço ao longo dos anos. Consequentemente, a situação financeira da empresa se deteriorou. Enquanto o casamento do Flamengo era com outra, a Betano passou pelos uniformes de Fluminense e Atlético-MG antes de aterrissar com força nos do Brasileirão e da Copa do Brasil. Mas o desejo de voltar a um clube grande — se possível, o de maior torcida — ainda estava vivo. Na Argentina, por exemplo, ela fisgou River Plate e a Liga. Logo, estar nas duas frentes não é novidade. Da parte da empresa, a estratégia é manter contatos periódicos com os clubes, em uma tentativa de mostrar por que a diretoria deveria se unir à Betano quando tiver oportunidade. A visão é que isso faz a diferença em janelas de negociação. Quando executivos da Betano tinham agenda no Rio, por causa dos acordos com a CBF, era comum ajustar a agenda para dar um pulo na Gávea também. Da parte do Flamengo, o interesse foi o de manter o mercado mapeado — não só com a Betano —, apesar de ter ótima relação com a Pixbet. A questão é que nos últimos meses já havia a consciência de que a parceria estava deixando aos poucos de fazer sentido para ambos os lados. Apesar do rompimento do contrato, Flamengo e Pixbet sempre tiveram ótima relação. A empresa de apostas era vista como flexível e compreensiva. Acomodava o possível para não atrapalhar iniciativas de outras marcas parceiras do Fla. A Pixbet honrou majoritariamente com os pagamentos. Mas alguns vieram incompletos — em uma proporção que, apesar de tudo, não comprometia as contas do Fla. O clube, inclusive, não quis jogar a situação do parceiro no "ventilador". Até que no último dia 13, veio o comunicado do Flamengo, dizendo que "encerrou de comum acordo e de forma amigável" o contrato com a Pixbet. A parceria englobava também o licenciamento da marca Flabet. O Flamengo vai receber tudo o que tinha direito até esse momento do ano. Em contrapartida, ninguém cobra juros ou multa rescisória do outro. A partir do fim do contrato, o Fla sinalizou ao mercado: os interessados têm 48 horas para mandar uma proposta única de patrocínio master. Foi uma correria só por parte das interessadas. Há quem classifique como período mais desafiador, ainda mais por se tratar de um investimento do porte que foi. As empresas se depararam com condições mínimas em diversos itens e fizeram propostas a partir disso. O Flamengo não fez leilão. E isso chamou a atenção das concorrentes. O clube não queria deixar essa novela se arrastar. Se durasse um ou dois meses, perderia dinheiro. Esportes da Sorte, Sportingbet, Superbet, 7K Bet, Betano e Bet Nacional fizeram propostas. Uma das participantes chegou a tentar fazer uma segunda proposta, aumentado o valor. Mas o Fla manteve a linha: só poderia receber um "lance" de cada uma. Três delas ficaram muito próximas entre si. Até pelo relacionamento construído e pela perspectiva de uma abrangência internacional mais consistente, a escolhida foi a Betano. Superbet e Sportingbet chegaram perto, mas não levaram. Tudo foi conduzido sob sigilo. Nem membros de comissões do clube que aprovariam o contrato receberam a minuta com o nome da vencedora. Só com as cláusulas definidas. Numa sexta, o clube disse que tinha recebido as propostas. A Betano foi anunciada na segunda-feira seguinte. Na terça, contrato devidamente aprovado no Conselho Deliberativo. Diante dos conselheiros, Bap pediu aplausos às concorrentes. Nem membros da oposição colocaram em xeque o movimento do clube. Reconheceram que o trabalho foi eficaz para turbinar ainda mais o valor comercial do Fla. O trabalho não para na assinatura do contrato. O dia seguinte à aprovação foi de imersão e conexão dos times das duas partes. Logo às 8h30, o presidente Bap fez uma live do Maracanã para dar mais detalhes da parceria. Flamengo e Betano entendem que podem extrapolar fronteiras. Por isso, pensam em ativações no exterior, também como um chamariz para venda do pay-per-view internacional dos jogos do Fla como mandante no Brasileirão. Os dois lados também acreditam que podem acelerar venda de produtos e adesões ao plano sem fronteiras do sócio-torcedor do Fla. Além de pagar R$ 85,5 milhões nesta semana, a Betano ainda vai pagar R$ 256 milhões a cada um dos próximos três anos, divididos em três parcelas por ano. A maior delas, de R$ 128 milhões, cairá sempre em janeiro. E a Flabet? Essa marca era operada pela Pixbet e ficará aberta por dois meses apenas para os usuários sacarem o dinheiro. Depois, vai acabar. A frase "a Nação confia", que será usada hoje, contra o Vitória, será substituída pela logo da Betano já no próximo domingo, no jogo contra o Grêmio, no Maracanã, em TV aberta.