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Com quantos idiomas se faz um treino? No caso da seleção brasileira atual, pelo menos três. Um dos auxiliares de Carlo Ancelotti, Paul Clement retrata bem a situação. O inglês mistura sua própria língua materna com português e algumas expressões em espanhol. Foi possível ver isso nos exercícios do treino de ontem, na Granja Comary, o primeiro da seleção na preparação para enfrentar o Chile. A seleção ganhou um DNA multicultural não só pelo fato de os jogadores pertencerem a ligas diferentes, mas também por causa da comissão técnica. Ancelotti e os assistentes Francesco Mauri e Mino Fulco são italianos. Paul é inglês. E todos eles passaram anos na Espanha. A orientação de Clement era por uma troca de passes e combinações específicas. O trabalho sob a chuva era para aprimorar a movimentação com e sem a bola, exigindo dos jogadores uma precisão para girar o jogo em um espaço específico — não muito amplo. A partir daí, veio o repertório do "curso" de idiomas. "Primeiro (toque) sempre natural", começou Paul, em português. Aí, veio a mistura: "Bruno (Guimarães), diagonal. Up and down, up and down (para cima, para baixo)". Em um tom leve e descontraído, rolou até uma brincadeira de Bruno Guimarães com Estêvão, que agora está no Chelsea, da Inglaterra: "Esqueceu português, Estevão?", disse o volante, depois de o caçula do grupo ter se confundido em um movimento. No meio disso tudo, há um jogador crucial para que a mensagem chegue de forma adequada ao grupo todo: Casemiro. Líder da seleção desde os tempos de Tite, ele foi multicampeão com Ancelotti no Real Madrid e agora atua no Machester United. O combo completo para a diversidade de línguas do treino. Clement, inclusive, dirigiu-se algumas vezes a Casemiro para que ele também direcionasse o ritmo da atividade. "Case, any combinations (qualquer combinação)", disse o assistente, indicando que os jogadores poderiam passar naquele momento para a direção que quisessem. "É livre, é livre", gritou o volante, que retomou o status de pilar da seleção. Tudo para que na Copa do Mundo todo mundo se entenda bem. Se possível, apenas no olhar.