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Esporte Futebol Ousadia ou tendência? Quem joga com 4 atacantes além do Brasil de Ancelotti Igor Siqueira e Thiago Arantes do UOL, no Rio e em Barcelona 13/10/2025 05h30 Deixe seu comentário Carlo Ancelotti, técnico do Brasil: esquema de quatro atacantes tem dado certo Imagem: Buda Mendes/Getty Images Carregando player de áudio Ler resumo da notícia Vini Jr., Rodrygo, Estevão e Matheus Cunha. A última linha da escalação do Brasil na goleada por 5 a 0 sobre a Coreia do Sul tinha quatro atacantes, repetindo o que já acontecera nas vitórias contra Paraguai (1 a 0) e Chile (3 a 0). Será assim também contra o Japão, nesta terça-feira, em uma evolução de combinação no Brasil que reflete o que tem acontecido em alguns clubes e o que já foi visto em Copas anteriores. O esquema tático de Carlo Ancelotti tem causado encantamento. Os elogios vêm não apenas pelo resultado, mas pelo fato de os quatro jogadores terem se movimentado de forma constante, criando uma fluidez ofensiva que foi aprovada pelo treinador. Mauro Cezar O Brasileirão, obviamente, não está decidido Milly Lacombe Abel deixa em palavras o seu maior legado Josias de Souza PT parte para a briga contra o Congresso Thais Bilenky O que querem os ministros que ficaram no governo Vini Jr, Estêvão e Rodrygo celebram após gol do Brasil sobre a Coreia do Sul em amistoso Imagem: Chung Sung-Jun/Getty Images "Temos uma base forte e ela sendo sólida na defesa, a qualidade na frente sobressai. Hoje Vinicius foi muito bem, assim como Rodrygo e Estêvão. Na frente, há muita qualidade e soluções ofensivas", disse o italiano, que também elogiou Matheus Cunha, o quarto elemento do quadrado ofensivo. "Cunha é um atacante que ajuda muito na saída de bola, não tem posição fixa. Hoje o rival meteu pressão (na marcação), e Cunha foi muito importante", acrescentou. Um olhar menos atento pode imaginar que o esquema com quatro atacantes, num esquema 4-2-4, é algo de outra época. A seleção de 1970, para dar o exemplo mais famoso de todos, jogava com quatro homens ofensivos: Pelé e Tostão centralizados, Rivellino pela esquerda e Jairzinho na direita. Vini Jr, Raphinha, Paquetá e Neymar fazem comemoração de gol na Copa-2022 Imagem: Francois Nel/Getty Images Evolução Só que nem é preciso ir tão longe para ver que o esquema com quatro atacantes está amadurecendo na seleção há pelo menos quatro anos. Entre as Copas de 2018 e 2022, Tite passou a usar Neymar como meia-atacante, com dois pontas abertos e um centroavante. Continua após a publicidade Na Copa do Qatar, o Brasil teve uma linha ofensiva com o camisa 10, Vini Jr., Raphinha e Richarlison. O meio-campo tinha Casemiro como volante, Paquetá como segundo homem e o próprio Neymar, que voltava para organizar o jogo, como um terceiro integrante. Sem a bola, os pontas eram obrigados a defender mais. Sob o comando de Fernando Diniz, a formação com quatro à frente também apareceu. Na época, houve críticas porque a dupla de volantes — André e Bruno Guimarães — ficava isolada da linha ofensiva e desprotegida quando o time perdia a bola. Com Ancelotti, o sistema chegou à sua maturidade sem duas pedras fundamentais de suas versões anteriores: um camisa 10 (leia-se Neymar) e um centroavante fixo. O italiano deu mais liberdade a Vini Jr. e Rodrygo pela esquerda e fez de Cunha um segundo atacante que também pode recuar para ajudar os meio-campistas. É uma releitura do que os predecessores fizeram; até agora, com esse sistema, são três vitórias, 9 gols marcados e nenhum sofrido. O Japão é o próximo teste. Matheus Cunha, em ação pela seleção brasileira, contra a Coreia do Sul Imagem: @rafaelribeirorio / CBF Alguém joga assim? Mas, nos dias atuais, quem joga assim? A tática ofensiva de Ancelotti é um gesto de ousadia ou pega carona em alguma tendência do futebol atual? Continua após a publicidade A resposta, observando as principais seleções do mundo, tem um pouco das duas coisas. Dentre as maiores favoritas ao título da Copa do Mundo, nenhuma tem usado quatro atacantes como formação inicial. Atual campeã europeia, a Espanha está consolidada há anos num 4-3-3. O time atual explora a habilidade e velocidade de Lamine Yamal e Nico Williams pelas pontas, com um atacante mais centralizado — que pode ser um centroavante (como Samu, Borja Iglesias ou Oyarzabal), ou um falso 9, como Dani Olmo. Nico Williams e Lamine Yamal são os titulares das pontas no 4-3-3 da Espanha Imagem: Angelos Tzortzinis / AFP No meio-campo, é inegociável haver um trio de jogadores com muita capacidade de passe e circulação de jogo: contra a Geórgia, jogaram Pedri, Mikel Merino e Martín Zubimendi. A Inglaterra de Thomas Tuchel também joga com dois pontas (a escolher entre Noni Madueke, Bukayo Saka, Antony Gordon ou Marcus Rashford) e Harry Kane no comando do ataque. No meio-campo, Declan Rice e Jude Bellingham são absolutos, o "terceiro elemento" ainda não está definido. A Alemanha, comandada por Julian Nagelsmann, tem atuado num 4-2-3-1, com o gigante Nick Woltemade, de 1,96m, como referência. Alguns metros atrás, Karim Adeyemi, Florian Wirtz e Serge Gnabry também têm vocação ofensiva, mas o sistema é menos móvel (e menos ofensivo) que o quarteto brasileiro. Os alemães esperam a volta de Jamal Musiala, lesionado durante o Mundial de Clubes, para terem um desenho mais definitivo. Continua após a publicidade Giovani Lo Celso, da Argentina, comemora gol contra a Venezuela Imagem: Foto: Reprodução/X@Argentina A campeã mundial Argentina tem duas formas de jogar: com ou sem Messi. Em nenhuma delas Lionel Scaloni abre mão de um trio de meio-campistas — a escolher entre Enzo Fernández, Alexis Mac Allister, Rodrigo de Paul e Giovanni Lo Celso — e também pode jogar com quatro homens no setor. Na frente, Lautaro Martínez é o principal centroavante; Julián Álvarez também exerce a função, mas é mais versátil. E Messi, quando quer jogar, tem vaga cativa. Na penúltima rodada das Eliminatórias, na vitória por 3 a 0 sobre a Venezuela, Scaloni chegou a escalar um quarteto ofensivo com Mastantuono, Almada, Messi e Álvarez, mas a formação não se repetiu. A França, finalista das últimas duas Copas do Mundo, é quem mais tem se aproximado do sistema de Ancelotti. Nos últimos jogos das Eliminatórias, Didier Deschamps tem escalado apenas dois meio-campistas e apostado num quarteto ofensivo. Nos 3 a 0 contra o Azerbaijão, na sexta-feira, jogaram Michael Olise, Kingsley Coman, Kylian Mbappé e Hugo Eketike. Em setembro, na vitória por 2 a 1 diante da Islândia, o quarteto teve Bradley Barcola e Marcus Thuram ao lado de Mbappé e Olise. Vencedor da Bola de Ouro, Ousmane Dembelé está machucado e não pôde ser convocado nas duas ocasiões. Arne Slot, técnico do Liverpool, em jogo contra o Tottenham pelo Campeonato Inglês Imagem: Paul ELLIS / AFP Referências em clubes No futebol de clubes também há referências recentes a equipes atuando com quartetos ofensivos. Mas com uma diferença: quase sempre, o 4-2-4 é um sistema que aparece em situações específicas do jogo, não com um quarteto ofensivo escalado desde o início. Continua após a publicidade Um dos exemplos mais notáveis é o Liverpool, campeão da Premier League na temporada passada, sob o comando de Arne Slot. Durante a temporada, o treinador holandês muitas vezes não usou centroavantes clássicos, mas atacava com uma linha de quatro: por exemplo, com Mohammed Salah pela direita, Luis Díaz pela esquerda, Dominik Szoboszlai e Cody Gakpo no corredor central. O sistema foi chamado por especialistas de 4-2-4-0, pela ausência de um centroavante; neste ponto, ele tem semelhanças com a tática de Carlo Ancelotti. Ainda na Premier League, outro 4-2-4 famoso foi o usado por Roberto De Zerbi em sua passagem pelo Brighton. O italiano usou diversas vezes uma dupla de atacantes — o brasileiro João Pedro e Danny Welbeck, por exemplo — com os pontas Simon Adingra e Kaoru Mitoma. Vinicius Junior e Carlo Ancelotti se abraçam durante a partida entre Real Madrid e Manchester City pela Champions League 2024/2025 Imagem: Oscar Del Pozo/AFP Ancelotti, camaleão As variações táticas são uma constante na carreira de Carlo Ancelotti como treinador. O italiano é conhecido por adaptar-se a situações de elenco e de jogo, sem precisar impor um sistema que seja inerente ao seu trabalho. Continua após a publicidade Dois casos famosos aconteceram em times que acabaram campeões europeus. No Milan de 2007, ele adotou o sistema 4-3-2-1, chamado de "árvore de Natal", para lidar com a saída de Andriy Shevchenko, deixando Kaká e Seedorf numa linha criativa, poucos metros atrás de Filippo Inzaghi. O exemplo mais recente aconteceu no Real Madrid da temporada 2023-24. O time havia acabado de perder Karim Benzema e não contratou reposição à altura do vencedor da Bola de Ouro. Sem um camisa 9 de primeiro nível, Ancelotti montou um losango no meio-campo, como Bellingham sendo o quarto homem do setor, e deixou Vini Jr. e Rodrygo como atacantes. Numa seleção brasileira que ainda não achou um centroavante e tem uma geração de pontas muito acima da média, o italiano parece ter percebido que a chave será, mais uma vez, adaptar-se ao que ele tem. Comunicar erro Deixe seu comentário Veja também Deixe seu comentário O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL. 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